Defende o culto da responsabilidade e da coerência
Sendo especialista reconhecido da História Contemporânea da Galiza, acredita que o seu papel forma uma opinião política importante?
É verdade que os historiadores têm assumido um papel maior no espaço público, embora em cada país as coisas acontecem de forma diferente. Em Portugal, o historiador está muito no espaço público e creio que em Espanha isso demorou a suceder - os historiadores têm aparecido em algumas intervenções mediáticas, partilhando o protagonismo com pessoas sem formação académica na área, e esse amadorismo traz resultados que não são comparáveis com outros países.
Qual é a solução?
O historiador deve estar no espaço público, mas não pode desgastar-se aí. Estar no mundo da comunicação de forma continuada e constante impede-o de continuar o trabalho de investigação, evoluindo com ele. O historiador tem ferramentas que o faz entender a sociedade em que vive, mas não as tem para construir opinião de forma continuada. Isso cabe a outros especialistas, nomeadamente jornalistas, políticos e pensadores. A História tem métodos, tem relatos, tem critérios concetuais que devem ser respeitados e que não dependem dos humores políticos, mas refletem as questões da sociedade em que se vive.
Sente-se escutado pelos atores políticos e pelos centros de decisão?
Por vezes sim, não é frequente. Ser assessor dos príncipes é uma tarefa ingrata que não recomendo a nenhum colega, muito menos a mim próprio. O príncipe quer ser governante e depende de resultados a curto prazo. Sei que os meus trabalhos são lidos e tidos em conta, mas isso não quer dizer que tenham influência direta, porque fazem parte de um polo de ideias, como pode acontecer com um escritor, um cientista ou outro qualquer. Os livros que publiquei tiveram muitas edições e espero que, no âmbito da Galiza, muitos jovens desfrutem deles.
No que respeita ao seu percurso e ao que já conseguiu fazer, pesa mais o orgulho ou a responsabilidade?
Claramente a responsabilidade. O orgulho é mau conselheiro e revela uma certa insegurança. Temos que praticar a ética da responsabilidade, por vezes também a ética da convicção, como diria Max Weber, necessária para acreditar numa utopia, ou numa ideia que não é assumida por todos. Mas o que faz andar a História é a responsabilidade e a coerência entre o que pensas e o que fazes.
Está feliz pelo seu percurso?
Sim, mas podia ser muito melhor. Não estou descontente pelo que fiz, mas acho que não fiz nada de extraordinário. Estou muito grato por este reconhecimento da Universidade do Minho, mas não pode mudar-me a vida. Tenho que seguir trabalhando, tenho que manter a curiosidade intelectual, terei que aprofundar o meu conhecimento pela História de Portugal. É grato este reconhecimento, mas traz-me responsabilidade e um aliciante para estar ainda mais vivo. Obrigado pela confiança, mas ela não me trará um narcisismo estéril.
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