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O Natal das crianças de pais separados
21-12-2016
Joana Baptista
Encontrar as melhores respostas vai depender de um esforço conjunto, de um verdadeiro trabalho de equipa entre mãe e pai, que implicará, antes de mais, capacidade para se colocarem no lugar da criança e verem o mundo através dos seus olhos.
O Natal é uma festa de encontros. E é uma das poucas que subsiste na sociedade ocidental dos nossos dias: uma sociedade agitada, instantânea, cujas relações e afagos ficam demasiadas vezes à mercê das novas tecnologias e das redes sociais. No Natal, a família reúne-se, envolta num clima de paz. Muitos dos seus elementos reencontram-se ao fim de largos meses de afastamento. Juntos, partilham alegrias, histórias, abraços e desembrulham os presentes que fazem as delícias dos mais pequenos. Aliás, há quem afirme que o Natal é das crianças. Eu concordo. São elas que mais intensamente incorporam o espírito de Natal, aguardando com a maior das ânsias os encontros da noite da consoada.
Este cenário de paz e união, que entra nas nossas casas e no nosso imaginário, não acompanha, com toda a certeza, as vivências de todas as crianças nesta época. Para as crianças de pais divorciados, às expectativas sobre a noite de Natal juntam-se muitas vezes inquietações, que são igualmente sentidas pelos próprios pais. Podem surgir querelas entre a mãe e o pai sobre com quem a criança vai passar a noite de Natal. A criança terá que lidar com as decisões que daí advêm e que podem não ser do seu agrado, e com as ausências indesejadas na noite da consoada: desde os avós aos tios e primos com quem a criança tanto desejava brincar. A imagem da família enquanto união pode ficar abalada.
Ajudar a criança a gerir estas experiências e os sentimentos que daí emergem é uma preocupação dos pais. Receitas mágicas não existem. Encontrar as melhores respostas vai depender de um esforço conjunto, de um verdadeiro trabalho de equipa entre mãe e pai, que implicará, antes de mais, capacidade para se colocarem no lugar da criança e verem o mundo através dos seus olhos.
E é esta leitura informada do mundo pela criança (cuja importância é tantas vezes esquecida por nós, adultos) que ajudará mãe e pai a melhor compreenderem as alegrias e os almejos dos seus filhos, mas também as inquietações e receios que podem aflorar nesta época do ano. E que não devem ser escondidos, ignorados, abafados. Devem ser aceites e naturalmente integrados nas conversações entre pais e filhos, num clima de harmonia parental. Um clima em que as relações mãe-filho e pai-filho são nutridas. E muito importante: são alimentadas por ambos os progenitores. E não apenas no Natal, mas durante todo o ano. Quer nos momentos mais fáceis quer nos momentos mais desafiantes, da infância à adolescência, pois isso será, com toda a certeza, no melhor interesse das nossas crianças.
* Investigadora no Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi) da Escola de Psicologia da UMinho
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