“Adoro contar histórias!”

21-12-2016 | Paula Mesquita | Fotos/Photos: Nuno Gonçalves

Celeste Magro é a responsável pela secção infantil e juvenil da BLCS

“Tenho uma grande paixão por crianças e sempre queria estar entre elas para as ajudar a brincar e as ensinar”, afirma

Veio para a Biblioteca Pública de Braga em 1997 e passou para a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva em 2004, aquando da sua inauguração

O espaço infantil da BLCS "deve ser um convite a brincadeiras e a viagens pelo mundo da imaginação", refere

Celeste Magro (em cima, à direita) entre colegas da Biblioteca Pública de Braga, em 2000

A BLCS está situada na rua de São Paulo, no centro de Braga

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Celeste Magro

Nasceu há 50 anos, em Vieira do Minho. Brincou e fez os primeiros amigos nas ruas da vila, mas aos 6 anos mudou-se para Braga. Depois escolheu ser educadora de infância. Apesar de já não exercer, mantém-se ligada às crianças, sem as quais certamente não conseguiria viver. É a responsável pela secção infantil e juvenil da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.


Mudou-se para Braga ainda muito nova.
Foi uma fase difícil, porque vinha de um meio rural e, por isso, muito diferente do que encontrei em Braga. Mas logo comecei a frequentar a escola primária de São Lázaro e fui-me adaptando. Depois frequentei a Escola André Soares e o Liceu D. Maria II. No final, descobri-me na profissão que queria seguir e escolhi o curso de Educação de Infância no Magistério Primário de Guimarães. Tenho uma grande paixão por crianças e sempre queria estar entre eles para as ajudar a brincar e as ensinar. Terminei o curso em 1988 e logo comecei a trabalhar: como educadora, numa instituição de solidariedade social de Braga e enquanto diretora técnica numa instituição particular. Mais tarde, em 1996, fiz a licenciatura em Educação de Infância no então Instituto de Estudos da Criança, na UMinho.
 
Como veio para a Universidade do Minho?
Vim em 1997. No âmbito do programa ocupacional para trabalhadores subsidiados fui chamada para uma entrevista na Biblioteca Pública de Braga (BPB), que pertence à UMinho. Confesso que não fiquei nada agradada com a ideia de trabalhar numa biblioteca. Estava habituada a uma sala cheia de crianças a rir, a brincar, a chorar… Ali, passaria a estar numa sala rodeada de livros estáticos e mudos. No entanto, aceitei o desafio! Fiquei com as funções de vigilância, apoio, e orientação dos leitores, arrumação de livros, revistas e filmes e colaboração nas atividades de animação na seção infantil e juvenil.
 
Foi difícil essa mudança?
Sim, no início. Só com esforço, dedicação e empenho no trabalho é que consegui transpor as deceções e barreiras. Também encontrei colegas e amigos que, com palavras de incentivo e sorrisos, foram um ponto de partida para a minha vitória. Mais tarde, já com outra motivação e porque nos era exigido, tirei o curso técnico-profissional de Bibliotecas e Documentação.
 
Como foi o seu percurso pela UMinho?
Entrei para o quadro de pessoal em 1999 e estive sempre afeta à secção infantil e juvenil; primeiro na BPB e, mais tarde, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS), que pertence à UMinho e ao Município de Braga.
 
Que funções foi desempenhando durante o seu percurso profissional?
Inicialmente tinha as funções de apoio e vigilância nas salas de leitura conjugando com a animação infantil. Depois envolvi-me na elaboração do programa dessas atividades infantis e no contacto com as escolas locais. Em 2004, com a abertura da BLCS, fui destacada para esse novo espaço, novamente para o setor infantil e juvenil, que, deixaria de existir na BPB. Entre janeiro e dezembro desse ano envolvi-me nas tarefas inerentes ao processo de transição: preparação de livros e documentos, gestão e organização dos diversos espaços da BLCS, focando-me depois mais no espaço infantojuvenil. A partir da inauguração e abertura ao público, em dezembro de 2004, e até aos dias de hoje, para além do atendimento ao público, faço a gestão e organização da sala infantil e juvenil e tenho como funções a planificação, organização e avaliação de programas e projetos, bem como a animação socioeducativa, coadjuvando também na extensão cultural.
 
O que é que gosta mais de fazer?
Adoro contar histórias e adoro dar vida aos livros! Contar histórias para crianças são momentos em que se abrem oportunidades importantes para a construção de uma identidade social e cultural. Por meio dos livros, podemos enriquecer as experiências infantis, desenvolver a linguagem nas crianças, ampliar-lhes vocabulário, formar-lhes o caráter, a confiança e proporcionar-lhes o imaginário. É através do prazer e das emoções que as histórias proporcionam que conseguimos agir no inconsciente das crianças e, muitas vezes, ajudar até a resolver conflitos interiores que possam estar a viver. Um exemplo são as “Histórias abensonhadas” que, mensalmente, dinamizo no Internamento da Pediatria do Hospital de Braga. Já dizia Maria Dinorah: “Livro é aquele brinquedo que, entre um mistério e um segredo, põe ideias na cabeça”!
 
Também faz biblioterapia.
Adoro biblioterapia! É um projeto que dinamizo junto da população sénior de algumas freguesias de Braga, sendo que alguns seniores são institucionalizados. É promovida uma sessão de leitura em grupo, recorrendo a contos tradicionais, lendas, adivinhas, provérbios, músicas ou filmes. Na base está sempre um livro e animação lúdica e visa-se o desenvolvimento da autoestima e da confiança, encorajando e despertando ansiedades que estimulam a ação e desabrocham as potencialidades latentes em cada um. A biblioterapia também é desenvolvida mensalmente no Serviço de Oncologia do Hospital de Dia de Braga.
 

Atividades da BLCS apelam aos sentimentos, à imaginação e ao sonho

A propósito desta quadra, considera que o Natal influencia a forma como as pessoas ou as crianças participam nas atividades?
Por esta altura, a BLCS promove um conjunto de atividades que apelam aos sentimentos, à imaginação e ao sonho, onde as pessoas e crianças se deixam contagiar de forma mais descontraída e participativa. É também um período de férias, as pessoas andam mais pelas ruas, que por sua vez estão decoradas à luz da quadra festiva. Pensamos na família, recordamos a infância. Ficamos, inevitavelmente, mais sensíveis e todos estes momentos que evocam o imaginário são vividos de forma mais ternurenta!
 
O que é que espera que as crianças sintam quando vão à BLCS?
A interação entre a criança e a biblioteca depende da forma como a biblioteca se organiza, nomeadamente na exposição e ordenação dos recursos informativos nas estantes! Espero que a sala infantil e juvenil da BLCS seja um local de descoberta e divertimento. Espero que o sintam como um espaço lúdico, pois é o lugar de brincar com os livros e com as letras, do faz de conta, do contar e do ouvir histórias. Deve ser um convite a brincadeiras e a viagens pelo mundo da imaginação.
 
Há alguma história engraçada que queira partilhar?
O movimento diário de utentes infantis na BPB era muito reduzido. Mas havia uma menina, com 7 anos, que quase todos os dias, sempre que não tinha aulas, entrava na Biblioteca, dava os bons dias, seguia para a sala de leitura, pegava em almofadas, pegava num livro de banda desenhada do Tio Patinhas, e deitava-se a ler. Depois de algumas páginas, levantava-se e pedia-me para não lhe arrumar o livro, pois voltaria de seguida.  Voltava passados uns minutos. Ia tomar o pequeno-almoço e comprar uns rebuçados para comer enquanto lia. Eu também tinha direito a um! Os anos foram passando e essa menina, hoje mãe, traz a sua filha de colo à BLCS para lhe ler livros, deitada sobre as almofadas da sala infantil! [sorriso]
 
Gosta de ler?
Confesso que não sou uma leitora assídua! Li recentemente, e por curiosidade, “A rapariga no comboio” de Paula Hawkins. Por razões ligadas ao meu trabalho, leio muitas histórias infantis e muitos contos tradicionais e devo dizer que me divirto bastante com alguns contos e lendas.
 
O que é que uma biblioteca tem que significar para as pessoas e para a sociedade em geral?
O manifesto da UNESCO sobre bibliotecas públicas diz: “A liberdade, a prosperidade e o progresso da sociedade e dos indivíduos são valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos estiverem na posse das informações que lhes permitam exercer os seus direitos e ter um papel ativo na sociedade.” Neste contexto, é vital que organismos, que disponibilizam ao cidadão bens culturais e educativos de enorme valor, como é o caso da BLCS, assumam um papel ativo na promoção da educação ao longo da vida, criando condições apropriadas para fomentar a cultura na sociedade. A biblioteca deve ser um local de descoberta, de aprendizagem e de lazer, onde podemos encontrar respostas para as nossas dúvidas, pesquisar para os nossos trabalhos, ou simplesmente passar os tempos livres.

 

Outras histórias e páginas de Celeste
 
Um livro. O último que li, “A rapariga no comboio”, de P. Hawkins.
Um filme. “Pátio das cantigas”, de F. Ribeiro.
Uma música. “Samba Pa Ti”, de Carlos Santana.
Uma figura. Gata borralheira.
Um passatempo. Dança e patinagem artística.
Um prato. O assado em forno de lenha da minha avó!
Uma viagem. Um cruzeiro no maior navio do mundo.
Um vício. Sou perfecionista.
Um defeito. Não lido bem com incompetência.
Um sonho. Ganhar o Euromilhões para o aplicar! [sorriso]
Um lema. Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.