"Temos excelentes relações com todo o mundo"

24-01-2017 | Nuno Passos / Joana Oliveira

João Monteiro é professor catedrático do Departamento de Eletrónica Industrial da EEUM e investigador do Centro ALGORITMI (foto: Diogo Cunha)

A cerimónia solene do 42º aniversário da EEUM foi a 18 de janeiro, no auditório nobre do campus de Azurém, em Guimarães (foto: Joana Oliveira)

Pormenor do edifício da Escola de Engenharia, no campus de Azurém, em Guimarães

Vista geral do edifício da Escola de Engenharia no campus de Gualtar, em Braga

1 / 4

Entrevista ao presidente da Escola de Engenharia (EEUM), João Monteiro, no âmbito do ciclo de conversas com responsáveis de Escolas e Institutos da UMinho e ainda do 42º aniversário da EEUM.




A EEUM está a celebrar 42 anos. Quais são as principais marcas deste percurso?
A Escola de Engenharia está bem entrosada com a comunidade, quer nacional, quer internacionalmente. As suas principais marcas são o impacto socioeconómico, quer na criação de riqueza em projetos de investigação e de extensão, mas também no mercado de trabalho com a criação de novas empresas, mas, acima de tudo, na melhoria das qualificações e nível técnico dos quadros que formou. Relevaria, essencialmente, a capacidade que a escola teve de formar excelentes quadros reconhecidos em todo o mundo; a Semana da Escola de Engenharia foi disso exemplo, com a oferta de 1100 ofertas de emprego.
 
Porque decidiu abraçar o desafio de presidir à maior Escola da UMinho?
Acreditei que conseguia fazer algo de diferente e esta é a única razão que consigo eleger como principal motivação. Entendi que reunia as caraterísticas necessárias para exercer este cargo com benefícios para a EEUM. Apesar das dificuldades, penso que temos conseguido alcançar bons resultados, uma vez que estamos a aumentar o número de projetos (de investigação e em consórcio com empresas), os resultados da colocação de alunos no concurso nacional de acesso foram muito positivos – com a Engenharia a subir claramente este ano –, recuperámos algumas Engenharias que se davam quase como perdidas, portanto o balanço é positivo.
 
Quais são os principais objetivos e projetos que quer implementar neste segundo mandato?
Os principais objetivos centram-se numa componente de internacionalização muito clara e orientada para o segundo e terceiro ciclos. Por outro lado, estamos a iniciar uma discussão com os departamentos sobre o que deve ser uma estrutura organizativa da escola a nível interno. Para isso, vamos fazer um percurso pelos nove departamentos que temos e teremos como uma das grandes metas um workshop no final de 2017. Ao nível dos projetos, prevemos manter e reforçar a ajuda que o Gabinete de Apoio à Execução Financeira de Projetos – que foi uma das marcas desta presidência – dá aos investigadores, no sentido de lhes retirar trabalho burocrático associado à investigação e desenvolvimento.
 
A equipa docente e discente e a oferta formativa para os vários ciclos estão adaptadas às exigências da sociedade? Prevê-se novidades em termos de cursos?
Creio que sim, e só posso estar orgulhoso dos recursos humanos que temos: 78 não docentes e 275 docentes do quadro, todos doutorados. Conseguimos ainda ter um conjunto de professores convidados e é nossa ideia que estes venham do tecido industrial e empresarial, trazendo assim um conhecimento acrescido aos nossos alunos, o que é uma vantagem. Claro que a oferta educativa pode sempre melhorar, e os sistemas de qualidade assim ajudarão, mas creio que está adequada às exigências que a sociedade impõe. Dentro da Escola de Engenharia e a nível de cursos de segundo e terceiro ciclos, existe sempre a possibilidade de novidade e, muito provavelmente, haverá proposituras de novos doutoramentos. Vamos ter também um programa doutoral na área do Governo Eletrónico e é muito provável que se verifique um crescimento a partir daqui. Temos outras propostas em conjunto com outras escolas em que estamos envolvidos, mas dadas as restrições que o Ministério coloca ao aumento do número de cursos, só encerrando um curso poderemos abrir estas novas apostas. Já temos propostas aprovadas internamente – designadamente com o Instituto de Ciências Sociais –, mas aguardamos.

Os centros de investigação afetos à EEUM obtiveram resultados de relevo nacional nesta área. A que se deve este resultado num contexto tão competitivo?
Penso que os resultados obtidos se devem, exclusivamente, aos investigadores que são de altíssima qualidade. Mesmo trabalhando, por vezes, com alguns problemas, estes profissionais veem o seu esforço recompensado e esta necessidade de cooperação e entreajuda é indispensável no campo da investigação. Existe sempre em Portugal aquele sentimento de que o que vem de fora é melhor - e nós temos, de certa forma, de mostrar mais para termos o mesmo e conseguirmos contrariar esta tendência. Claro que, para isto ter sido possível, foi necessário construir um espírito de corpo e isso é a nossa mais-valia.
 
Como é que a EEUM pode auxiliar atuais e antigos alunos na progressão da carreira?
Estamos sempre de portas abertas, mais ainda na Semana da Escola de Engenharia, para auxiliar os antigos e atuais alunos. A feira do emprego contou este ano com 1100 ofertas e aberta ao público, pelo que tivemos todo o gosto em receber toda a gente interessada em assistir aos workshops. Cada vez mais, a definição de emprego para a vida tende a desaparecer do nosso vocabulário mundial, pelo que ter elevados níveis de educação acaba por ser um fator chave para sobressair no mercado de trabalho. Um segundo aspeto tem que ver com a tecnologia, tem vindo a evoluir a um ritmo tão elevado que é imperativo uma formação ao longo da vida, e é também para isto que estamos prontos. Creio, por isso, que temos um leque de vantagens que nos ajudam a prestar uma requalificação no quadro dos antigos alunos. Para os atuais alunos, temos planos de estudos estáveis que vão sendo alterados de três ou de quatro em quatro anos – pois a evolução tecnológica assim obriga –, mas as formações complementares de História, de Línguas, de Humanística, entre outras, estão sempre presentes e são indispensáveis.

De que forma esta Escola se pode afirmar no contexto de crescente internacionalização?
A EEUM tem um excelente relacionamento com o sudeste asiático, com o Brasil, com os países balcânicos, e por aí fora. Contudo, e exemplificando com o sudeste asiático – apesar de a China ser o potentado que é –, notamos valores baixos de docentes com doutoramento. Curiosamente, nesta região são as próprias empresas a mostrar o interesse em que alguns dos seus investigadores (e trabalhadores da empresa) façam o doutoramento numa área tecnológica. Este é um mercado enorme para nós e o facto de termos associação com algumas destas universidades permite-nos criar um polo virtual da EEUM. No fundo, falamos aqui numa espécie de sinergias, onde as forças são combinadas para a crescente valorização destas parcerias a nível internacional, mas sempre numa base de cooperação que nos distingue da abordagem de outros países europeus.
 
Como espera que seja a EEUM em 2020, em termos da sua evolução e desenvolvimento?
Espero que, nessa altura, a Escola de Engenharia seja a melhor no país e que esteja reconhecida a nível nacional e internacional. Acredito que temos condições para que isto que se concretize em 2020. Já cá não estarei como presidente, mas pretendo assistir a esta evolução.
 
Quais são, para si, os principais desafios do ensino superior a nível nacional e internacional?
A nível internacional, vivemos num mundo muito competitivo, com as universidades a adquirirem uma maior capacidade de investimento. Estou convencido que, a curto prazo, as universidades mais reconhecidas nos rankings são as norte-americanas, as inglesas e algumas suíças e creio que se manterão assim. Contudo, temos que ter um trabalho importante para aumentarmos o reconhecimento internacional, que se tem baseado num conjunto de projetos icónicos, mas precisamos de cimentar ainda mais esta componente. A nível nacional, o nosso principal desafio passa por tentar combater os dois ímanes de atração – Porto e Lisboa –, mostrando aos futuros alunos que regiões como Braga e Guimarães são muito atrativas para estudar. No entanto, estou certo de que esta mudança só irá acontecer se tivermos cursos e investigação com muito prestígio e é nesse sentido que continuamos a trabalhar.

 

Nota biográfica
 
João Monteiro nasceu no Porto em 1957 e vive em Guimarães. Iniciou a carreira docente na UMinho em 1980, após a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica pela Universidade do Porto. Obteve o doutoramento em Engenharia de Sistemas e Informática em 1991 e a agregação em 2003. É professor catedrático do Departamento de Eletrónica Industrial desde 2007. Foi (cor)responsável por várias dezenas de projetos de I&D financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pela Agência da Inovação, por empresas e por programas europeus. Exerceu o cargo de pró-reitor da UMinho (2005-09) e de diretor do Centro de Investigação ALGORITMI (1998-2006 e 2010-2013), sendo ainda o coordenador do Grupo de Sistemas Embebidos (ESRG) daquele centro.