Novos imigrantes chineses vêm à procura de qualidade de vida

24-01-2017 | Pedro Costa

Zhang Fengyang numa passagem pelo Porto, com a Torre dos Clérigos ao fundo

A ex-aluna da UMinho leciona atualmente Português da Universidade Normal de Harbin, no nordeste da China

Junto à entrada sul do campus de Gualtar, em Braga

A passear num elétrico da Carris, em pleno centro de Lisboa

O Instituto Confúcio da UMinho a promover "A Dança do Leão", mostrando um pouco da cultura chinesa

A caligrafia chinesa é uma das muitas atividades dinamizadas para sensibilizar os cidadãos em geral para o mundo oriental

1 / 6

Os 40 mil chineses são a maior comunidade asiática em Portugal, com um crescimento particular nos últimos anos, refere o trabalho de Zhang Fengyang.




Zhang Fengyang, na sua dissertação do mestrado em Estudos Interculturais, com o título “Os Chineses em Portugal: As razões da vinda e a sua situação atual”, explorou com particular enfoque a perspetiva de vida da comunidade chinesa, particularmente dos seus emigrantes de segunda geração, que se revela diferente da anterior, porventura mais distante e menos integrada.
 
A História demonstra que, no final do século XX e início do século XXI, o mundo entrou na fase madura da globalização. Os contactos globais multiplicaram-se e a humanidade desenvolveu-se a uma escala global, com a migração como fator muito importante neste processo. A análise da autora focou a emigração internacional, as causas e efeitos da migração, bem como os fenómenos de globalização e transnacionalismo. Aprofundou as causas da vinda dos chineses para Portugal e a sua situação atual, num contexto de globalização, anunciando que o nosso país “tem recebido bastantes chineses, ao abrigo da política do Golden Visa, com o número a aumentar rapidamente”.
 
A investigadora, que afirma ter visto neste estudo “um paralelismo” com a sua própria história, avaliou as ideias prévias sobre Portugal por parte de chineses que nunca estiveram no país e aplicou inquéritos a chineses que vivem em Portugal, em duas circunstâncias distintas: com residência permanente e temporária. A tese discutiu nas conclusões a situação quotidiana dos chineses ao nível económico e de integração social, sem deixar de perspetivar o desenvolvimento futuro desta comunidade, especialmente no que respeita aos emigrantes chineses de segunda geração.
 
A dissertação analisou as razões desta migração, num contexto de emigração internacional e de globalização. Segundo o estudo, há uma concentração de chineses em Portugal, sobretudo nos grandes centros urbanos de Lisboa, Porto, Faro, Aveiro, Braga e Leiria, havendo quase 40 mil imigrantes chineses no nosso país. A maioria vem da China continental, de Hong Kong, Macau, Taiwan, Moçambique, Timor-Leste, mas aquele número inclui também chineses de nacionalidade portuguesa. Para analisar este fenómeno social, Zhang Fengyang considerou o contexto histórico da emigração chinesa, com destaque para a política de abertura implementada por Deng Xiaoping. Neste âmbito, concluiu que cada vez mais chineses vão para o estrangeiro para estudarem tecnologia de ponta e fazerem pleno uso dos recursos internacionais.
 

Maioria chega do Este da China

A análise centrou a atenção nos imigrantes provenientes do território continental da China, especialmente das regiões de Wenzhou e de Qingtian, na província de Zhejiang, que representa a maioria dos chineses em Portugal. Vieram para este país com os seus pais, através de amigos ou familiares com negócios em Portugal, sobretudo por motivos familiares, a fim de proporcionarem uma vida melhor aos seus, tendo em conta o ambiente português propício aos seus negócios. Ao contrário dos primeiros imigrantes que lutavam pela sobrevivência, os novos imigrantes procuram oportunidades de investimento e melhor qualidade de vida.
 
Quanto aos chineses com residência temporária constam os estudantes, os trabalhadores temporários e os turistas. A maioria daqueles estudantes já tinha estudado língua portuguesa na China, pois há cada vez mais alunos a escolher esta língua como futuro académico e há mais universidades a oferecer o curso de Português. Entre esses alunos, alguns vieram estudar Administração de Empresas, Gestão Financeira, Economia ou Futebol, já que a popularidade deste desporto na China trouxe já cerca de 130 jogadores para formação em Portugal.
 
Por outro lado, o aumento da cooperação sino-portuguesa tem como consequência a necessidade de engenheiros e gerentes, entre outros cargos, para trabalharem em empresas chinesas em Portugal. O que significa que os trabalhadores vêm porque as suas empresas precisam deles aqui ou, por outro lado, vêm para ganharem mais dinheiro. Na verdade, também se concluiu que a riqueza patrimonial, histórica e arquitetónica de Portugal atraiu muitos turistas chineses.
 


Como vivem em Portugal?
 
A investigadora adianta que a China está “a enfrentar a terceira emigração, na qual a classe média é a principal força”. Os dados do Relatório de Emigração Chineses Internacionais revelam que “os chineses tornaram-se nos maiores grupos de emigrantes estrangeiros do mundo”. No que diz respeito às circunstâncias atuais dos chineses em Portugal, de uma maneira geral, esta população vai crescendo, ao mesmo tempo que se verifica uma diversificação dos locais de origem e um aumento da competição entre chineses, sobretudo os que se dedicam ao comércio.
 
Com o crescimento desta comunidade em Portugal, as suas condições económicas e sociais melhoraram. Numa dimensão horizontal, as identidades dos chineses em Portugal registam uma diferenciação pluralista. Numa dimensão vertical, existem duas diferenciações pluralistas entre grupos de imigrantes de diferentes faixas etárias e a separação entre as gerações mais velhas de imigrantes e os seus filhos.
 
Para Zhang, que está agora a lecionar Português da Universidade Normal de Harbin, no nordeste da China, a segunda geração dos imigrantes chineses é um grupo particularmente importante em Portugal. A maioria daqueles afirmou ser chinês e ter identidade chinesa, possuindo um forte sentido de missão e responsabilidade em relação à família, mas registando no entanto um baixo nível de educação. A taxa de abandono escolar nesta geração é alta, o que lhe coloca limitações no desenvolvimento profissional e interpessoal, limitando a sua integração social à grande relação com os pais. Assim, a comunidade chinesa no sentido alargado tornou-se a principal plataforma de apoio para esta segunda geração de imigrantes e, só através desta, participa em atividades sociais e revela os seus valores.