“Aprendo todos os dias e ainda tenho muito a aprender!”

17-02-2017 | Paula Mesquita | Fotos/Photos: Nuno Gonçalves

É funcionária da Biblioteca Pública de Braga há 34 anos. Pelo trabalho dedicado e mérito, recebeu hoje a medalha da UMinho

Entre colegas (à direita), no jardim interior do Largo do Paço, em 1982

Felicidade Gonçalves (em cima, de azul, em 1987) encontrou na BPB "um ótimo ambiente de trabalho e uma equipa com grandes qualidades humanas e excelentes profissionais”

Convívio entre os funcionários da BPB, aquando da aposentação da então diretora Helena Laranjeiro, em 2005

Desenvolve o seu trabalho na Secção de Publicações Periódicas da BPB, no Complexo Largo do Paço, em Braga

Um dos momentos que mais a marcou no percurso profissional foi a informatização, “uma evolução muito grande”

Entre os colegas da BPB (em baixo, ao meio), em 2009

“Gosto de ajudar a descobrir aquilo que o leitor não consegue encontrar”, afirma

Felicidade Gonçalves gostava que a UMinho continue a valorizar esta unidade cultural, para que prossiga no cumprimento do serviço público que lhe compete

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Maria Felicidade Gonçalves

Nasceu em 1962, em Cabreiros, Braga, onde fez o ensino primário. A partir daí, fez a escolaridade em Braga – a rotina diária que a escolha implicou trouxe-a definitivamente para esta cidade, onde vive. Veio para a UMinho no verão de 1981, com 19 anos, e jamais a largou. Hoje está entre os funcionários que receberam a medalha da UMinho, pelo seu trabalho, mérito e profissionalismo.


Como chegou à Universidade do Minho?
O primeiro contacto foi no final do ano letivo de 1980/81, através do Programa de Ocupação de Tempos Livres (OTL), criado para jovens estudantes, pelo Instituto de Emprego. Durante os três meses de férias de verão, podíamos trabalhar em instituições públicas que tivessem aderido ao programa. Candidatei-me e, na entrevista que fiz, o então diretor da Biblioteca Pública de Braga (BPB), dr. Henrique Barreto Nunes, selecionou-me para este trabalho! Tinha eu 19 anos quando aconteceu esta mudança na minha vida. Comecei a trabalhar no Setor de Revistas da Secção de Publicações Periódicas da BPB.
 
O programa OTL foi a sua primeira oportunidade de trabalho. O que sentiu?
Ainda consigo guardar a imagem desse momento! [sorriso] Estava nervosa, porque era a primeira experiência de trabalho. A responsável pela Secção, dra. Helena Laranjeiro, por seu lado, estava entusiasmada por receber alguém que fosse contribuir para a organização do núcleo das revistas estrangeiras e da comunidade.
 
O que é que encontrou?
Encontrei um ótimo ambiente de trabalho e uma equipa com grandes qualidades humanas e excelentes profissionais, que me ensinaram tudo o que sei. Aqueles três meses de Verão foram uma experiência decisiva. Saí do Liceu para vir trabalhar para a BPB, e por aqui continuo até hoje.
 
Como foi o seu percurso pela UMinho?
Voltei em 1982 para a BPB em regime de aquisição de serviços, como técnica auxiliar. Nessa altura, fui para o Setor de Jornais. Fui adquirindo experiência e gostava do que fazia. No ano seguinte, tive a oportunidade de fazer o Curso de Preparação de Técnicos Auxiliares de Biblioteca e Serviços de Documentação (BAD), que me deu habilitações para entrar para a carreira correspondente. Com este curso adquiri conhecimentos específicos do trabalho em bibliotecas e fiquei apta a executar as tarefas inerentes a todo o processo documental: tratamento, conservação e difusão da informação, para satisfação das diferentes necessidades dos utilizadores. Trabalhei como técnica auxiliar de 2ª, na Secção de Publicações Periódicas, em regime de ATD (atividade para trabalhadores desempregados) e de aquisição de serviços. Só em 1988 é que entrei para o quadro de pessoal da UMinho e dez anos mais tarde passei para a categoria de técnica auxiliar de 1ª de BAD. Em 2005, passei a técnica profissional especialista principal de BAD e em 2009, com a reestruturação das carreiras, transitei para a carreira de assistente técnico.
 
Que funções desempenha atualmente?
A minha principal função é contribuir para concretização da missão da BPB: tratar, preservar e divulgar o seu património bibliográfico e documental, tendo igualmente em atenção a qualidade dos serviços prestados. Desenvolvo o meu trabalho na Secção de Publicações Periódicas, Setor de Revistas, onde entram, todos os meses, os periódicos das remessas do Depósito Legal, que incluem um exemplar de tudo o que se publica em Portugal. Tenho a função de proceder ao tratamento técnico das publicações periódicas e controlo das respetivas coleções; arrumação e organização das publicações periódicas nos depósitos; apoio a pesquisas bibliográficas e, sempre que necessário, atendimento ao público. Colaboro nas exposições bibliográficas e destaques da BPB. Sempre que é tratada uma nova remessa de Depósito Legal faço uma seleção das revistas mais representativas para colocar em destaque na portaria da BPB.
 
Como se sente, relativamente ao seu percurso profissional?
Foi aqui que cresci como pessoa e profissionalmente. Nunca trabalhei noutro sítio. Dediquei toda a minha vida profissional à BPB, com todo o empenho e dedicação. Sempre tentei dar o meu melhor. Foi aqui que adquiri toda a minha experiência profissional e me especializei na área das bibliotecas. Devo muito do meu percurso às pessoas que conheci.
 
Qual foi o momento que mais a marcou?
Destaco dois momentos, totalmente diferentes: a minha entrada para o quadro de pessoal da UMinho e a informatização da BPB. O aparecimento do computador veio alterar a forma de trabalhar. Foi uma grande evolução. O leitor passou a poder aceder a distância ao catálogo da BPB e às existências dos periódicos, evitando deslocações em vão.
 
O que é que gosta mais de fazer no seu trabalho?
Gosto de tudo! [sorriso] Adoro abrir as remessas do Depósito Legal. Fico com curiosidade de saber o que entra de novo e vontade de tratar e disponibilizar à leitura do público os novos títulos de revistas ou os mais recentes fascículos. Também fico satisfeita quando consigo ajudar um utilizador nas suas pesquisas bibliográficas. Gosto de ajudar a descobrir aquilo que o leitor não consegue encontrar. Gosto desse desafio da procura! Gosto de colaborar nas exposições bibliográficas da BPB. Gosto de trabalhar em equipa, de partilhar os meus saberes, que refletem aquilo que aprendi ao longo do tempo.
 
Vive o seu trabalho com intensidade.
Cada dia é diferente; alguns são difíceis [sorriso], mas tenho por lema “um dia de cada vez”, viver com o que tenho, partir para a luta, arranjar soluções e não complicar. Fazemos constantes reorganizações e reestruturações dos depósitos e procuramos frequentemente soluções para remediar a falta de espaço, numa secção que cresce de dia para dia. Há dias em que me sinto contente com esses “quase” milagres e outros em que também sinto cansaço e emoções adversas, mas aceito com serenidade. Sinto necessidade de evoluir, sou ambiciosa e muito decidida e, por isso, aproveito todas as oportunidades para me valorizar pessoal e profissionalmente. Como dizia Sócrates, “Só sei que nada sei”. Por isso, todos os dias aprendo e ainda tenho muito a aprender!
 
Passados 34 anos, o que é que trouxe à Universidade do Minho?
A minha dedicação, vontade de trabalhar e exigência profissional. Sou uma pessoa ativa e não deixo que circunstâncias externas interferiram no plano profissional e nas tomadas de decisão.
 
Está perto de terminar o seu percurso na UMinho. Já pensou nesse futuro?
Sim, pensei, porque, quando essa altura chegar, gostava de fazer outras coisas. A minha vida profissional foi inteiramente dedicada à BPB. Sou uma pessoa muito persistente e capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Como sei que noutros contextos, familiar, social ou associativo, também se aprende, gostava de ter saúde para voltar para as minhas origens, viver no campo e dedicar-me à agricultura. Gostava de fazer voluntariado e continuar a ajudar quem precisa de mim. “Trabalhar para a comunidade”, como diz o meu filho [João Manuel], cada vez que me vê envolvida na escola, na freguesia, na paróquia.
 
O que gostava que ainda acontecesse na UMinho e na BPB?
Gostava que a UMinho continuasse a valorizar esta unidade cultural. A Biblioteca Pública de Braga foi criada em 1841 e sempre lutou contra a falta de espaço e de pessoal para conseguir cumprir o serviço público que lhe compete. Gostava que a BPB tivesse melhores condições para poder zelar pelo seu valioso, e em muitos casos insubstituível, património bibliográfico e documental.
 
 

  As outras “páginas” do livro da Felicidade
 
  Um livro. Estou a ler “A Sabedoria Nossa de Cada Dia”, de Augusto Cury.
  Um filme. A minha vida.
  Uma música. Música portuguesa, fado.
  Uma figura. O meu pai.
  Um passatempo. Trabalhar a terra e ler.
  Uma viagem/um sítio. Bom Jesus do Monte, em Braga, acessível e belo.
  Um prato. Bacalhau.
  Um momento. Sempre que ajudo os outros.
  Um vício. Perfecionista, demasiado exigente, mesmo comigo, tenho o meu projeto de vida definido e rígido.
  Necessidade de participar ativamente na sociedade e colocar as minhas capacidades ao serviço dos outros.
  Um defeito. Sou frontal, persistente e gosto de fazer imensas coisas ao mesmo tempo.
  Um sonho. Ter saúde para viver a aposentação.
  Um lema. Querer é conseguir. Nunca desistir.
  A UMinho. A minha casa profissional, onde procuro fazer sempre o melhor que sei, da melhor forma que sei.
  Tudo aconteceu aqui! [sorriso]