Plataforma de votação eletrónica inovadora nas universidades portuguesas

31-03-2017 | Catarina Dias

A plataforma eVotUM foi utilizada pela primeira vez em março para as eleições do Conselho Geral

Luís Amaral, do Departamento de Sistemas de Informação, coordenou o desenvolvimento do sistema eVotUM

Os professores João Álvaro Carvalho e Luís Amaral numa sessão comemorativa do Dia da Universidade

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Acaba de ser lançado o eVotUM, um novo sistema de votação eletrónica no ensino superior nacional. Luís Amaral coordenou o grupo de trabalho ligado ao desenvolvimento da tecnologia.





A plataforma eVotUM pode ser usada em período de eleições e na realização de referendos sobre temas relevantes para a comunidade académica, realça aquele professor do Departamento de Sistemas de Informação.

É a primeira vez que a UMinho realiza eleições recorrendo exclusivamente ao voto eletrónico. Como surgiu esta ideia e com que objetivos?
Já em 2006 a UMinho foi pioneira na utilização de uma plataforma de votação eletrónica, como uma das possibilidades de voto. Desenvolvido no âmbito do projeto “e-UM Campus Virtual”, o sistema foi o primeiro a ser autorizado pela Comissão Nacional de Proteção de Dados, fazendo da UMinho a primeira universidade em Portugal a realizar eleições com este tipo de suporte. A motivação para a sua criação foi o natural aproveitamento das tecnologias para promover a renovação e a modernização dos processos, neste caso dos processos eleitorais.
 
Como é que o sistema se adaptou à acelerada evolução tecnológica?
A plataforma concebida em 2006 deixou de ser utilizada há dois anos, pois já se encontrava numa situação de quase obsolescência, comprometendo as necessárias garantias de segurança e inviolabilidade em que deve assentar um serviço desta natureza. Assim, aproveitando a disponibilidade de financiamento externo, a Universidade decidiu reimplementar este serviço, apostando na construção do eVotUM seguindo normas e recomendações internacionais, bem como as tecnologias mais modernas para garantir a segurança e a confidencialidade do voto.
 
Quais são as grandes mais-valias do voto eletrónico?
Estamos a falar da substituição de um processo anacrónico, pleno de fraquezas e fragilidades, com custos de execução muito elevados e acima de tudo muito limitador da participação por parte de todos os potenciais votantes. A utilização de plataformas de votação eletrónica é uma opção pela modernidade, que a todos beneficia e que não pode ser parada por medos e falsos fantasmas que alguns, poucos, teimam em criar.
 
É uma forma de modernizar as eleições nesta academia?
Sem qualquer dúvida. Espero que a UMinho dê o exemplo e faça com que todas as suas eleições sejam suportadas pela eVotUM.
 
Pretendem expandir a plataforma a outras instituições?
É intenção da UMinho oferecer este serviço a todas as universidades que o pretendam utilizar. Eventualmente terá de se encontrar, num curto prazo, um modelo de exploração que permita a continuação da sua utilização interna e, simultaneamente, a oferta de serviços externos.



Estas eleições foram as mais participadas de sempre

A plataforma eVotUM estreou a 21 de março com as eleições ao Conselho Geral da UMinho, as mais participadas de sempre, com 3062 votantes. Ainda assim, a adesão dos estudantes foi residual, não ultrapassando os 8.5%. O NÓS entrevistou o professor João Álvaro Carvalho, presidente da Comissão Eleitoral (CE), que fez um balanço positivo do processo.

 
Que balanço faz das últimas eleições ao Conselho Geral?
A afluência à votação nestas eleições foi superior à registada em eleições anteriores, pelo que, no que diz respeito a este aspeto, o balanço é claramente positivo. O facto de se ter realizado por meios eletrónicos permitiu que um número significativo de votos tenha sido concretizado fora da UMinho. Cerca de 90 acessos à plataforma foram feitos a partir do estrangeiro; não sendo possível saber se todos se traduziram em votos, pode concluir-se, no entanto, que a eVotUM contribuiu para que uma quantidade razoável de eleitores conseguisse votar no dia da eleição, apesar de fisicamente afastados.
 
E a afluência dos estudantes?
Continua a ser baixa. Apesar do número de alunos-votantes ter sido substancialmente superior ao das eleições de 2013 (1513 e 1034, respetivamente), a participação estudantil não ultrapassou os 8,5%. A CE está a preparar um relatório circunstanciado, que apresentará ao Conselho Geral, com uma apreciação mais alargada das eleições. Nesse relatório, serão analisadas as medidas de sucesso definidas pela Comissão que contemplam vários indicadores, para além da afluência dos eleitores. Esse documento terá em conta todos os problemas reportados durante as votações.
 
Como correu o processo eleitoral?
Foi marcado por uma falha técnica na eleição do representante dos trabalhadores não docentes e não investigadores. Logo na abertura das votações, a CE detetou uma falha que afetava os eleitores que tivessem votado na Lista C. No passo de confirmação do voto, surgia a indicação de que tinham escolhido votar em branco. É provável que alguns desses eleitores não se tenham apercebido que estavam a confirmar tal voto em branco ou que se tenham precipitado e confirmado um voto que não correspondia à sua intenção. Assim, é possível que um número indeterminado do total de 70 votos em branco corresponda a intenções de voto na Lista C.

A situação foi imediatamente reportada?
Sim, à Equipa Técnica de Intervenção Rápida (ETIR), que acompanhava o processo eleitoral pronta a intervir para resolver problemas técnicos. A falha foi diagnosticada em pouco tempo: um caractere presente no nome da Lista C provocava nas aplicações de navegação na web (browsers) uma situação de erro que as levava a, no passo seguinte de confirmação, apresentarem um voto em branco em vez de um voto na Lista C. Refira-se que este caractere “estranho” foi introduzido aquando da indicação dos nomes associados a cada uma das listas, fruto de uma operação de cópia seguida da sua colagem no espaço para indicação do nome da lista. A falha foi identificada e resolvida em 30 minutos. A monitorização que a ETIR fez do funcionamento dos computadores que suportavam a votação, e da rede da UMinho, permitiu ainda detetar outros problemas, sem impacto relevante no modo como estavam a decorrer as eleições, que também foram prontamente resolvidos.
 
A CE decidiu não repetir as eleições. Porquê?
A decisão de validar as eleições justificou-se considerando que a falha técnica foi detetada no arranque da votação, tendo sido reportada de imediato à ETIR. A resolução do problema não envolveu intervenções nas urnas eletrónicas. Terá passado, aliás, despercebido à generalidade dos eleitores e parece não ter afetado o desenrolar do processo eleitoral. Basta olhar para a ausência de notificações à CE e a adesão da comunidade académica ao longo do dia. Tendo também presente que nenhum voto entrou em qualquer das urnas sem ter sido confirmado pelo eleitor, a CE entendeu que a eleição não fora comprometida. Assim, a decisão de uma eventual repetição da eleição colocar-se-ia caso os resultados eleitorais fossem de alguma forma afetados pelas consequências da falha técnica. Após o apuramento dos resultados, constatou-se que uma hipotética conversão de todos os votos em branco em votos expressos na Lista C não seria suscetível de alterar o resultado final da eleição, uma vez que a Lista A conseguiu maioria absoluta (54,78% dos votos). Face a esta situação, a CE decidiu considerar a eleição válida e submeter os seus resultados ao presidente do Conselho Geral para homologação.