“Com o curso de Administração Pública posso dar outros passos”

30-06-2017 | Paula Mesquita | Fotos/Pictures: Nuno Gonçalves

Junto de colegas finalistas de Administração Pública, na cerimónia de imposição das insígnias, realizada a 13 maio de 2017 no Pavilhão Desportivo de Gualtar

Com as colegas Zélia Livramento e Graça Silva, no antigo Instituto de Educação e Psicologia

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Ana do Sameiro Campos Gonçalves

Nasceu em Terras de Bouro há 43 anos e começou a trabalhar na UMinho há 18. O seu percurso profissional e a determinação permitiram-lhe alguns sucessos. É assistente técnica do Instituto de Ciências Sociais, onde se sente "verdadeiramente parte de uma equipa", e está prestes a finalizar a licenciatura em Administração Pública.



Onde nasceu e como chegou a Braga?
Nasci em 1974, em Chamoim, Terras de Bouro e lá vivi e estudei até aos 16 anos. Em 1990, os meus pais mudaram-se para Braga para eu e os dois meus irmãos podermos prosseguir estudos. Na altura, em Terras de Bouro o ensino só ia até ao 9º ano de escolaridade. Vim estudar para o Liceu Sá de Miranda. O curioso é que nenhum de nós quis prosseguir estudos na altura. Ficámos pelo 12º ano! [sorriso] Hoje, só faltava eu tirar um curso no ensino superior, que adiei para acompanhar os primeiros anos de vida da minha filha!
 
Como veio para a Universidade do Minho?
Cheguei à UMinho em 26 de outubro de 1999, através de uma pessoa amiga. O Centro de Investigação em Educação (CIEd), que funcionava no edifício da Biblioteca do Campus de Gualtar, precisava de uma pessoa a tempo parcial para apoiar na execução de verbas relativas a projetos e, através de uma pessoa amiga, vim eu ocupar essa vaga, a 26 de outubro de 1999. Uma semana depois de ter iniciado funções, a diretora do Serviço de Consulta de Psicologia e Desenvolvimento Humano soube que eu estava a trabalhar a meio tempo e veio ter comigo para me propor trabalhar a outra metade do horário naquele serviço. A partir de novembro, passei a trabalhar também na receção do Serviço de Consulta. “Vesti esta camisola” durante 6 anos, 3 dos quais em regime de aquisição de serviço.
 
O que fazia em ambos os serviços?
No CIEd, tratava de tudo o que estivesse relacionado com o plano de execução das verbas afetas aos projetos de investigação em desenvolvimento e prestava apoio administrativo ao Centro e à direção, nomeadamente na correspondência postal e eletrónica e no atendimento telefónico. No Serviço de Consulta de Psicologia, desempenhava todas as funções inerentes à receção dos utentes, marcação de consultas, cobrança e faturação das mesmas e apoio aos profissionais na reposição dos materiais necessários ao bom desenvolvimento das consultas.
 
Algum lhe propôs trabalho em horário completo?
A certa altura, tanto um como outro serviço precisaram de mim a tempo inteiro, mas nenhum abriu mão e passaram para mim a decisão de optar! [sorriso] Eu gostava de trabalhar nos dois serviços e, por isso, não consegui escolher. Apesar do CIEd ter conseguido contratar-me através de uma bolsa FCT, fui-me candidatando aos concursos públicos e isso acabou por representar uma aprendizagem para mim. Adquiri um conhecimento mais sólido da UMinho, da orgânica e do funcionamento interno da Instituição.
Foi esse processo de preparação gradual que lhe proporcionou uma vaga em funções públicas?
Sim. Em alguns concursos, cheguei a ir á 3ª fase de seleção - entrevista pessoal. E fiz sempre muita formação, para poder enriquecer e aumentar o meu conhecimento e competências. Até que consegui, em 2005, ficar numa dessas vagas e, em 28 de novembro, fui trabalhar para o Instituto de Ciências Sociais (ICS)! [sorriso]
 
Que funções lhe estavam destinadas?
Comecei por dar apoio às direções de curso do 1º ciclo do ICS, onde fazia a ligação entre alunos, docentes e os diretores dos cursos de Arqueologia, Ciências da Comunicação, História e Sociologia e o, entretanto extinto, Conselho de Cursos. Passados 6 meses, mudei para o departamento de Sociologia, onde ainda estou, para substituir uma colega que acabara de sair.
 
Que funções desempenha atualmente no departamento de Sociologia?
Asseguro todo o serviço administrativo do departamento, nomeadamente, no apoio aos docentes e às suas necessidades: contactos, deslocações, ligação com o conselho pedagógico, secretaria aos órgãos do departamento, contacto com os alunos e gestão de verbas afetas ao departamento. Desde janeiro, executo também a gestão das verbas afetas à presidência e outros dois Departamentos do ICS.
 
O que gosta mais no seu trabalho?
Gosto de tudo! [sorriso] Todos os assuntos em que o departamento se envolve passam por mim e todos esses assuntos envolve a interação com outras pessoas, docentes e alunos, e, por isso, eu adoro! Recordo-me de, há uns anos, quando foram extintos os conselhos de cursos, ter receado perder o contacto com docentes e, principalmente, alunos. Felizmente, não aconteceu! [sorriso] Gosto de me sentir próxima dos alunos, gosto que eles me vejam como alguém, pronto a ajudar. Há estudantes do ICS que acompanho ao longo de 3 anos, outros durante 5 e outros, ainda, que acompanho durante 8 anos. É desse contacto que eu gosto e esta forma de estar passa para eles e fá-los sentir confiantes e próximos da instituição. Eu também tenho uma filha deslocada, que precisa de ajuda igualmente!
 
Qual foi o momento que mais a marcou ao longo do percurso profissional?
A entrada no ICS! Fazer parte de uma organização e sentir-me verdadeiramente parte integrante de uma equipa. Não consegui criar em mim esse sentimento de pertença enquanto trabalhei nos dois serviços anteriores.
  
O que é que a levou a regressar aos estudos?
Desde os primeiros tempos do meu percurso profissional pela UMinho, voltei a ter muita vontade de prosseguir os meus estudos e tive sempre muitas pessoas à minha volta que me encorajavam a tirar uma licenciatura, tanto os meus pais e os meus irmãos, como docentes da Universidade. O meu pai, então, incutiu-nos muito esse enriquecimento e falava-me constantemente no assunto (infelizmente, já não assistiu à minha graduação). Só que nessa altura, tinha a minha filha pequenina, a precisar de cuidados especiais, pelo que decidi dedicar-me por completo a ela até eu achar que reunia condições para desempenhar os três papéis (mãe, trabalhadora e estudante) em paralelo e bem! [sorriso] E hoje, depois de tudo, percebo com clareza, que tomei uma boa decisão. Nunca conseguiria dedicar-me de forma tão intensa aos estudos, na idade mais tenra da minha filha. Assim, acabámos por estudar juntas, partilhámos ideias, e, acima de tudo, ajudámo-nos mutuamente!
 
Foi difícil?
Um bocadinho! [sorriso]. Felizmente, entrei no curso que escolhi: Administração Pública, e o meu irmão acabou por assumir o mesmo entusiasmo do meu pai e incentivou-me muito. Durante o curso de preparação para candidatura através do regime especial para os maiores de 23 anos, era ele quem cuidava da minha filha. Depois, na licenciatura, com as aulas já durante o dia, geri muito bem o tempo para que nada ficasse para trás. É preciso estar-se motivado e eu sentia muito entusiasmo! Ancorei-me nos colegas de turma que foram sempre excecionais. Tenho dois colegas de turma que já terminaram tudo, deveriam estar de férias, um deles poderia estar já de regresso aos Açores, mas resolveram estudar durante esta semana, para me poderem ajudar-me a preparar para um exame que terei na próxima semana!
 
Que sente agora, que terminou o curso?
Sinto que correspondi à expectativa das pessoas que sempre me encorajaram e depositaram confiança em mim; sinto-me muito mais enriquecida, que ganhei novas possibilidades de futuro e que estou preparada para dar outros passos. Foi o curso que escolhi, que idealizei, ligado à minha área de trabalho. Aprendi tanto! Terminei com mais consciência da realidade da Administração Pública, e graças a isso, sinto-me mais capaz de responder de forma completa às necessidades diárias e mais integrada na própria função pública que exerço. (VÍDEO)
 
Seria diferente, se tivesse estudado noutro estabelecimento de ensino?
Sou, por natureza, uma pessoa muito discreta e nunca fiz questão de dizer a ninguém que era funcionária da UMinho ou do ICS. Havia um ou outro docente que me conhecia, mas era caso raro. Só com o passar do tempo é que foram descobrindo e não aconteceu com todos. Fixavam-me mais por ser trabalhadora-estudante. [sorriso] Não nos facilitam a vida, mas, felizmente, respeitam muito o nosso esforço, tendo em conta a condição de trabalhadores. Mas também conheço esta casa há quase 20 anos e a verdade é que se chegasse ao pé da sala de aula e a porta estivesse fechada, ia à gestão do complexo pedir para a abrir, se fazia falta formalizar uma reserva de sala de uma hora para a outra, eu disponibilizava-me, se o projetor não funcionava, eu intervinha,… Quase de certeza que seria diferente! [sorriso]

 

Curiosidades

Um livro. “A vida num sopro”, de José Rodrigues dos Santos.
Um filme. “A vida é bela”, de Roberto Benigni. Moldou-me enquanto pessoa. É uma lição de “Dar na mesma proporção que queremos receber”
Uma música. “Chuva”, do compositor Jorge Fernando
Uma figura. O meu pai!
Um passatempo. Exercício físico. Faço-o por gosto e por vício!
Uma viagem/um sítio. Veneza. Não é só mito; é mesmo linda!
Um prato. Feijoada à transmontana! Quando a minha mãe a faz, ui, ui! [sorriso]
Um momento. O “renascimento” da minha filha, depois de 10 dias em coma!
Um defeito. Bondade. Às vezes vira-se contra mim.
Um sonho. Ter mais tempo para viajar!
Um lema. Continuar a ser feliz!
A UMinho.  É a minha segunda casa e identifico-me muito com ela.  Já lhe dediquei metade da minha vida!