Vestido converte dança em cor e luz

22-01-2018 | Pedro Costa

A bailarina Patrícia Azambuja a experienciar o vestido inovador (foto: Marlon Carvalho)

A bailarina Patrícia Azambuja a experienciar o vestido inovador (foto: Marlon Carvalho)

Um manequim com o novo vestido de ballet que converte dança em cor e luz (foto: Marlon Carvalho)

O professor Hélder Carvalho na "International Conference on Intelligent Textiles and Mass Customisation 2017", na Bélgica

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"LIGHTness" visa transmitir a força e leveza do ballet. O projeto envolveu o professor Hélder Carvalho, as alunas Rachel Boldt e Virgínia Viana e a empresa vimaranense Ballet Rosa.




Hélder Carvalho, professor do Departamento de Engenharia Têxtil (DET) da UMinho e ainda investigador do seu Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil (2C2T), "o vestido usa um acelerómetro e dois sensores de força colocados nas pontas dos sapatos que detetam o tipo de movimento e a sua intensidade, exibindo os seus efeitos de forma visual”. Além de servir como potenciador da coreografia, o vestido enfatiza e interpreta os momentos em que a bailarina executa o difícil en pointe (em bicos dos pés), um dos seus mais peculiares movimentos. Todo o potencial do projeto faz com que o recetor percecione a força e a resistência que os praticantes empregam na sua arte. Por outro lado, este produto permitirá traduzir diferentes conceitos, podendo colaborar estética e conceptualmente em diferentes tipos de espetáculo.
 
No universo da dança, os movimentos dos bailarinos e a sua dramatização são os fatores primordiais para a construção da informação a ser comunicada dentro de um espetáculo. Ao exprimir suavidade e leveza, mediante a configuração dos movimentos numa coreografia, é gerada a ideia no espectador de uma natural facilidade para executar os passos pelos bailarinos. Esta informação contrasta com a que é reconhecida de a bailarina dever possuir força muscular e condições físicas para a execução da dança.

“Visando explorar esta dicotomia presente na beleza leve e fluida apresentada pelas bailarinas e a força e empenho aplicados na execução dos passos do ballet, foi desenvolvido o conceito 'Leveza da Força', que no decorrer do projeto foi rebatizado como 'LIGHTness, wearing dance'” explica o investigador. Hélder Carvalho é coautor - responsável pela componente de eletrónica e de software - do projeto, que surgiu de uma ideia original de Rachel Boldt e Virgínia Viana, alunas do mestrado em Design e Marketing de Produto Têxtil, Vestuário e Acessórios. Tudo começou quando as alunas quiseram demonstrar a força e o sofrimento que as bailarinas protagonizam na dança, explica. De resto, esta aproximação dos alunos de design aos wearables tem alguns anos na UMinho e já com trabalhos muito promissores.

O desenvolvimento experimental de produto transdisciplinar do "LIGHTness" propõe a ampliação da comunicabilidade da dança por meio do figurino cénico tecnológico. O conceito aplicado à roupa tem o objetivo de materializar, através de iluminação, em cores mais frias ou mais quentes, os momentos onde há o emprego da força, bem como a sua intensidade durante o espetáculo. Ao utilizar sensores, o vestido capta movimentos e transforma-os em luz e cores de diferentes intensidades, de acordo com o conceito metalinguístico aliado à lógica computacional pré-estabelecida em projeto. Outra variante é a do momento en pointe, “momento nobre do ballet que, através dos sensores dos sapatos, transmite ao vestido a informação para a emissão de uma luz especial, que significa a recompensa daquele momento”, descreve o investigador coordenador.
 

Têxteis inteligentes na vanguarda

Este projeto mostra-se inovador e com grande potencial no universo dos smart wearables. Os seus dispositivos que captam a interação, principalmente os sensores de pressão, são perfeitamente integráveis em peças de vestuário sem interferir no desempenho primário dos artigos. As especialidades envolvidas neste trabalho são as de design de moda, modelação, materiais, eletrotecnia, prototipagem e programação. Tecnologia vestível, e-têxtil, têxteis eletrónicos, tecidos inteligentes são termos que indicam a aplicação de tecnologias que têm como objetivo oferecer funções adicionais a roupas e acessórios. É neste campo científico que se inscreve o "LIGHTness", beneficiando do avanço da investigação e em estreito relacionamento com o amplo desenvolvimento da computação. O objetivo norteador foi a experimentação das possibilidades estéticas comunicativas do vestuário, por via da interpretação da variação de intensidade da força produzida pela bailarina ao dançar. Esta força é captada e interpretada por meio da combinação de sensores, com programação eletrónica e iluminação LED.  

O produto desenvolvido é dividido em três partes fundamentais, que comunicam sem fios entre si: um vestido interativo, uma base eletrónica de processamento e uns sapatos de ballet. O vestido exterioriza de forma lúdica, por difusão de luz, a interação da dança com a força e o movimento. Este movimento é captado pela base eletrónica com recurso a um acelerómetro, fitas de led neopixel e um módulo de processamento. E é este módulo que se encarrega de interpretar os dados recolhidos pelos sensores e distribuir a ordem de programação aos leds e sapatos. Por fim, estes sapatos de ballet são responsáveis por intercetar a intensidade da força aplicada pela bailarina no ato da dança, através de sensores de pressão.

Segundo Hélder Carvalho, no universo do espetáculo há uma oportunidade da busca de novas plataformas de emissão conceptual, logo o novo vestido "potencializa o poder de comunicação da dança e enriquece a linguagem apresentada”. O docente realça que este contexto “possibilita diferentes efeitos luminosos que são determinados fundamentalmente pela arte da coreografia desenvolvida”. Entretanto, com igual tecnologia e dispositivos de receção de interatividade, é possível criar efeitos variados e, consequentemente, aplicações comerciais diversas. Ou seja, as respostas luminosas permitem traduzir diferentes conceitos, podendo colaborar estética e conceptualmente em muitos tipos de espetáculo. Além do objetivo inicial da construção do vestido de ballet interativo, a pesquisa apresentou novas possibilidades no universo do ballet, como sapatos de ponta de caráter pedagógico à iniciação da dança, que podem indicar o correto posicionamento dos pés. O desenvolvimento do vestido contou com a parceria da empresa vimaranense Ballet Rosa, de Luís Guimarães e Adão Coelho, ligada à conceção e ao fabrico de vestuário e acessórios para ballet.