Centro de Estudos Lusíadas quer "aumentar o gosto" pelo debate de ideias

19-03-2018 | Nuno Passos

Colóquio "Relações entre a Península Ibérica e o Japão", com vários investigadores nipónicos, em março de 2017, na UMinho

Colóquio "O Português como língua num mundo global - problemas e potencialidades", com Laborinho Lúcio, em dezembro de 2016, no MNS

Colóquio "Braga - espaços culturais e de contemporaneidade", com os oradores convidados Miguel Bandeira, Luís Tarroso Gomes e Eduardo Jorge Madureira, em setembro de 2016, no MNS

Algumas publicações do Centro de Estudos Lusíadas

José Teixeira (foto de Nuno Gonçalves)

José Teixeira (foto de Nuno Gonçalves)

José Teixeira (foto de Nuno Gonçalves)

1 / 7

Entrevista a José Teixeira, diretor do CEL, no âmbito do ciclo de conversas com os responsáveis das seis unidades culturais da UMinho.




O Centro de Estudos Lusíadas (CEL) surgiu em 1975, na sequência da doação do comendador Nogueira da Silva. Com que objetivo?
A efetiva instituição do CEL aconteceu realmente apenas em 1986, embora remonte a 1975 a razão da sua constituição, concretamente o testamento do comendador António Augusto Nogueira da Silva, datado de 25 de setembro de 1975. O comendador foi, como sabemos, o fundador das “Casas da Sorte” e essa atividade permitiu-lhe formar o património que, como verdadeiro mecenas, quis legar à UMinho e à cidade. É pena que seja praticamente caso único e que nos últimos tempos não tenham aparecido mais “Nogueiras da Silva”… O Museu Nogueira da Silva e o belo palácio da Avenida Central são a parte mais visível desse legado. O CEL nasce da vontade explícita do comendador de que a Universidade criasse e mantivesse um Centro dedicado à promoção e divulgação da cultura feita em português. Por isso, a missão é essencialmente a do estudo, da preservação e da difusão das realizações culturais portuguesas, seja no domínio da língua e da literatura, seja no domínio das artes plásticas ou noutros domínios como a filosofia, os movimentos sociais…
 
O CEL fica no 4º piso do Museu Nogueira da Silva, no centro de Braga. Como descreveria o seu espaço e espólio, para quem ainda não o visitou?
O CEL não tem propriamente instalações autónomas “visitáveis”. Tem apenas um espaço de trabalho e reunião e espaços onde mantém algumas das publicações de que é responsável. Mas situa-se num local, esse sim, visitável, o Museu Nogueira da Silva (que merece bem as visitas que se quiserem fazer e tem aberto ao público um bar que muito contribui para a estadia poder ser mais agradável). E este é um espaço global, magnífico e que uma grande parte da Universidade e cidade talvez não conheça bem. Neste Museu têm sido permitidas ao CEL todas as atividades pretendidas, desde apresentação de livros, conferências, colóquios… Tem havido sempre uma inexcedível colaboração da direção do Museu Nogueira da Silva.
 
Que balanço faz do percurso do CEL até ao momento?
O percurso do CEL é mais vasto do que a minha participação nesse percurso. Apenas fiz parte da anterior comissão diretiva presidida pela professora Virgínia Soares Pereira e presido à atual desde 2015/2016. Além de todas as atividades “voláteis”, se é permitido o termo, como conferências, debates, visitas guiadas, congressos, pretendemos mostrar o percurso feito e, também, deixar os frutos desse percurso, normalmente consubstanciado em publicações das temáticas trabalhadas em conferências e debates durante cada ano. A título de exemplificação, refiro alguns livros publicados que mostram as temáticas abordadas: Fernando Pessoa, 35 Sonetos Ingleses; José Régio e a Política; A Geração de 70: Alberto Sampaio e os “Outros”; A Guerra Colonial; Proudhon no Bicentenário do seu Nascimento; Arte no Minho; Fernão Mendes Pinto e a projeção de Portugal no mundo; Judeus Portugueses no Mundo: Medicina e Cultura; A Política da Língua Portuguesa; O português como língua num mundo global - Problemas e potencialidades.
 
Que eventos destaca?
Sendo uma unidade dotada de uma verba meramente simbólica, os eventos mais visíveis do CEL costumam ser os colóquios que anualmente se realizam, já que envolvem várias pessoas, frequentemente exteriores à UMinho. Permita-se-me destacar o último colóquio, ocorrido em 7 e 8 de março de 2017, sobre as relações entre a Península Ibérica e o Japão desde o século XVI até hoje e que contou, além de investigadores portugueses, com dez investigadores de duas universidades japonesas.
 
Como avalia a recetividade do público?
Aí está uma questão que pode ter uma resposta politicamente correta e uma resposta... honesta. A primeira é referir que o público tem aderido às atividades do CEL de forma empenhada. E até tem. Mas em número que deveria ser maior, confesso. Penso que a Universidade e a cidade poderiam aproveitar melhor as atividades culturais, não apenas as do CEL, mas tantas outras. A UMinho tem vários cursos e alunos em estudos denominados “culturais” e estou convencido que muitos deles acabam os cursos sem terem participado numa única atividade cultural extracurricular. Não os vejo muito nas atividades oferecidas. Claro que há sempre um número muito significativo de pessoas que adere às atividades do CEL. Às vezes até em número maior do que o esperado, como quando tivemos que fazer turnos para visitas/debate a duas obras contemporâneas da arquitetura religiosa de Braga, a Capela Árvore da Vida e a Capela da Imaculada. Mas ainda há bastante a fazer para haver uma cidade e Universidade com maior dinamismo cultural.
 


Dois livros para breve

Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
Os mais imediatos são a edição e apresentação de duas obras da responsabilidade do CEL. Uma que está quase pronta e de que faremos a apresentação pública brevemente: "Espaços, Culturas Urbanas e Contemporaneidade", em que se reflete sobre a relação entre o espaço humano e as vivências culturais, tendo como ponto de referência a região em que o CEL e a Universidade se inserem, Braga e o Minho. Depois, uma outra resultante do colóquio referido sobre as relações entre a Península Ibérica e o Japão, desde o século XVI até hoje, feita em colaboração com os investigadores japoneses participantes.
 
Em que medida projetos como o do CEL contribuem para a missão da Universidade?
É estatutariamente uma unidade cultural da UMinho e tem como missão, conforme vem consignado, proceder ao estudo e difusão da cultura lusíada, nas suas múltiplas vertentes. Neste sentido, procuramos que as atividades como publicações, conferências e colóquios estejam sempre abertas à comunidade, evidenciando a função da Universidade como motor da atividade científica e cultural da comunidade em que se insere. Por outro lado, procuramos também que as atividades complementem e reforcem a dimensão de formação da Universidade. Por isso, tentamos, sempre que possível, integrar as atividades científicas e culturais a desenvolver pelo CEL nas atividades académicas da UMinho.
 
Quer deixar uma mensagem final?
Não sei se se pode chamar mensagem: um desejo, talvez. De que aumente e se desenvolva o gosto pelo debate de ideias, de apresentação, defesa e preservação da cultura e do património da região em que o CEL e a UMinho se inserem. É esse o objetivo principal do CEL. É para ele que queremos a adesão da Universidade e da comunidade.