Exposições assinalam Maio de 68

30-05-2018 | Nuno Passos

Pormenor da exposição no ILCH. Ao centro, o polícia é desafiado pelo sorriso irónico do estudante Daniel Cohn-Bendit, uma figura do Maio de 68, a par de Alan Geismar e Jacques Sauvageot

As obras da mostra do campus de Gualtar estão divididas por vários escaparates e incluem autores de vários países

Ilustrações e pichagens com "palavras de ordem" são testemunhos obrigatórios do Maio de 68

Na Biblioteca Pública de Braga, um dos painéis destaca várias fotos icónicas

Os paralelos amontoados a separarem o cordão policial dos manifestantes suscitou a expressão "Sous les pavés, la plage!"

A mostra da BPB dedica uma secção aos títulos de jornais nacionais da época sobre o tema

As evocações surgiram ao longo das décadas com alguma frequência na imprensa nacional

O espólio desta unidade cultural da UMinho tem sido a base para exposições mensais sobre diversas temáticas e figuras

Júlio Pomar, falecido este mês, viveu o Maio de 68 em Paris e dedicou ao tema vários quadros, como este que é o cartaz da presente exposição da BPB

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Mostras do Instituto de Letras e Ciências Humanas e da Biblioteca Pública de Braga, além de uma palestra e um documentário, evocam 50 anos do movimento iniciado nas universidades de Paris.




São jornais da época, fotos icónicas, cartazes, cartoons, graffiti e obras literárias. O hall do Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH), no campus de Gualtar, em Braga, está a acolher a exposição alusiva "Sous les pavês, la plage!”. A ação é organizada no âmbito do doutoramento em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas, sob a coordenação da professora Ana Gabriela Macedo.
 
A exibição está patente até 5 de junho e tem entrada livre. A iniciativa foi complementada a 10 de maio com a palestra "Maio de 68 - entre História e Memória", da doutoranda Célia Novais, e a projeção do documentário alusivo "Mourir à trente ans" (1982), de Romain Goupil. A sessão foi integrada no ciclo de seminários doutorais "Work in Progress" e decorreu na sala de reuniões do Centro de Estudos Humanísticos. “O Maio de 68 foi iniciado por estudantes na França e alastrou à sociedade em geral, com um forte impacto internacional. Estando nós numa universidade, importa assinalar e preservar esta memória histórica de inquietude juvenil e rebeldia positiva, que marcou gerações de modo indelével e cujos efeitos, a vários níveis, ainda hoje se fazem sentir; esta efeméride transcendeu largamente os seus objetivos iniciais", explica Ana Gabriela Macedo.

A Biblioteca Pública de Braga (BPB) está também a relevar a riqueza do seu espólio, ocupando o seu átrio com uma centena de obras, documentos icónicos e painéis de grande formato sobre o movimento-chave do século XX. O destaque recai nas monografias editadas em Portugal em 1968 e nos anos seguintes, na ênfase dada nos jornais locais e nacionais da época e nos dossiers de publicações atuais. Procura dar-se a conhecer diversas visões sobre o Maio de 68, desde as suas origens, a cronologia dos principais acontecimentos, as suas consequências e as influências na atualidade. Pode-se ainda ver slogans como “É proibido proibir!” e “Sejam realistas, exijam o impossível!”, a iconografia singular produzida e outras fotos dos soixante huitards, aludindo à exposição na Biblioteca Nacional de França.
 
“Este espírito revolucionário abalou o mundo ocidental e transformou mentalidades. É curioso verificar, entre oturos aspetos, que o que se vivia nas ruas de Paris teve bastante repercussão nas capas da nossa imprensa nacional, inclusive com referências nos jornais bracarenses, apesar de vivermos ‘fechados’ durante o Estado Novo”, referem os coordenadores Elísio Araújo e Rosa Cunha, respetivamente diretor e técnica superior da BPB. Por exemplo, segundo uma primeira página do jornal República, "a nação [França] está dividida pela discórdia, paralisada por greves economicamente suicidas e sofrendo nova vaga de violência"; e na capa do dia 26 daquele maio d'O Século, "mil feridos em Paris nas manifestações de rua" e a fotolegenda "Paris já está a arder". A exposição insere-se no ciclo “Efemérides” e está aberta ao público até 26 de junho, todos os dias úteis, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00.
 
O movimento de Maio de 1968 representou uma época onde a renovação dos valores foi acompanhada pela proeminente força de uma cultura jovem. A ampliação dos direitos civis, da liberdade, da utopia e da oposição a guerras vigentes desdobraram uma série de questões lançadas por lutas políticas, por obras filosóficas e pela euforia juvenil. “Sous les pavês, la plage!” (Sob as pedras da calçada, a praia!) é uma frase marcante desse período, quando os estudantes viram que os paralelepípedos das ruas, colocados numa cama de areia, serviam para fazer barricadas e ser arremessados à polícia – seria a imagem da violência revolucionária, num movimento que foi mais ideológico do que violento e que viria a influenciar, entre outras ações, a crise académica de 1969 em Portugal.