“As novas universidades forçaram as outras a serem dinâmicas”
Depois veio lançar o Politécnico do Porto.
É verdade. Quando cheguei, só estava criada a Escola Superior de Música (sem local próprio) e a ser construída a Escola Superior de Educação. Ainda não havia alunos. Fizemos a integração do Instituto Superior de Engenharia [ISEP], do Instituto Superior de Contabilidade e Administração [ISCA], criámos um polo em Vila do Conde, outro depois em Felgueiras, integramos a Escola Superior de Tecnologias da Saúde [hoje Escola Superior de Saúde, ESS]… O programa foi desenvolvido nos vinte e poucos anos que ali estive. Presidi à comissão instaladora, fui presidente em regime estatutário após as eleições e saí quando atingi o limite de três mandatos na presidência. O ISEP passou de 2000 para 6000 alunos (tendo sido construídos novos edifícios de ensino e investigação), o ISCA de 1500 para 4500 e saiu dos vários edifícios na Praça da Batalha para um construído de raiz. Recuperou-se e ampliou-se a antiga Escola do Magistério do Porto para instalar a ESMAE - Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo, que “ganhou” o Teatro Helena Sá e Costa. A ESS, integrada no IPP na parte final do último mandato, ficou sediada num edifício transitório, num acordo posterior com o Município de Gaia. A minha ideia era diferente: instalar a escola num polo de saúde que integraria empresas e um hospital, num terreno cedido pelo Município da Maia, mas infelizmente o projeto dinamizado por esta autarquia não teve sequência. Em Felgueiras, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão foi instalada num edifício cedido pela Câmara e restaurado; foi ainda comprado o terreno para as instalações definitivas, apesar de o processo de criação da escola se ter arrastado alguns anos por razões de natureza política.
Face à sua experiência em várias instituições de ensino superior, que avaliação faz de possíveis cenários para Portugal?
Sou defensor de dois subsistemas: politécnico e universitário. Acho que nunca se definiu claramente o que cada um deveria fazer! Procurou-se a distinção pela via administrativa, introduzindo limitações ao ensino politécnico. Inicialmente o politécnico só podia ministrar bacharelatos, depois também licenciaturas (bietápicas), posteriormente mestrados. Não se clarificaram as missões, modelos de formação, modelos de investigação… A opção pelas limitações administrativas conferiu-lhe uma imagem negativa (aquilo que não podem fazer!), um estatuto de segunda opção para os estudantes. Em termos de financiamento, o orçamento público médio por aluno beneficia claramente as universidades, cuja acessibilidade a outros fundos está muito mais facilitada. Como consequência, verificou-se que os politécnicos desenvolveram programas de formação que mimetizavam tendencialmente os das universidades, ao passo que as universidades adquiriram aspetos de profissionalização do politécnico. Se tivéssemos definido o perfil claro de formação de cada parte tínhamos resolvido o problema. Sempre defendi que o politécnico deveria atribuir todos os graus, desde que reunisse as condições pré-definidas, mas organizado de forma diferente – mestrados profissionais, doutoramentos nas empresas…
Um modelo diferenciado.
Sim. Há ainda o problema do défice demográfico de jovens, que vai ser muito grave para o país. Estamos também a transformar-nos num “país faixa” [litoral], desertificando progressivamente o interior. Se pensarmos a rede de ensino superior na perspetiva economicista, depois de tribunais, saúde, correios, ao tirarmos as escolas politécnicas as cidades morrem. Por exemplo, o Politécnico de Portalegre tem um impacto direto de 4% e indireto de 11%, numa cidade que está a envelhecer de maneira brutal. Se fechar, em seis meses os jovens e a maioria das lojas saem. Que país queremos? Politicamente, tomam-se medidas avulsas, há um adiamento do problema em si e no ensino superior há um egoísmo institucional: em situações de crise, as pessoas querem é salvar pele! Elimine-se o que não beneficia ou prejudique, sem que as consequências interessem. Repetem-se sistematicamente os erros! Aos decisores políticos falta a memória. Nos ministérios faltam as pessoas que sabiam bem que algumas experiências falharam (e porquê) e avisavam os novos ministros para não repetirem erros.
Que balanço faz do papel das universidades novas?
Positivo, sem dúvida, pelo impacto próprio na sua área de influência e, a nível do país, por forçarem outras universidades a reorganizarem-se, a adquirirem outras dinâmicas, forçando-as a mudar práticas e a abrir-se no interior. Esse efeito catalisador foi muito interessante.
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