A escola do futuro será personalizada, graças à inteligência artificial

31-05-2019

A comissão organizadora com alguns dos oradores: Maria Teresa Godinho, Maribel Miranda, Catarina Araújo, Alline Oliveira, Ana Paula Alves, António Osório, Ana Francisca Monteiro, Scott Bolland e Luis Valente

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Em que consiste a inteligência artificial na educação? Como usá-la a nosso favor? O que mudará ou irá permanecer? Duzentas pessoas perspetivaram o tema na conferência internacional "Challenges".





Imagine uma escola em que o professor dispõe de vários assistentes que, além de despacharem as papeladas, estão atentos e preparam formas de apoiar as apetências e dificuldades particulares de cada aluno. Parece difícil? A verdade é que está mais próximo do que se possa pensar, a julgar pelo debate na 11ª Challenges - Conferência Internacional de TIC na Educação, que juntou há dias cerca de 200 pessoas no Instituto de Educação da Universidade do Minho. Com a inteligência artificial (IA) como grande aliado, a escola do futuro será uma experiência personalizável, adaptada às singularidades de cada um, em que o professor é quem dirige e garante que a orquestra está sintonizada, resumiu a investigadora Ana Francisca Monteiro, do Centro de Investigação em Educação (CIEd).
 
Organizada a cada dois anos pelo Centro de Competência em TIC da UMinho, a Challenges discutiu os desafios que as mais recentes inovações tecnológicas representam para a educação, reunindo investigadores, professores, programadores, engenheiros, técnicos e jornalistas. Até porque a IA não vai ser. Já é no presente, frisaram vários palestrantes, referindo-se, por exemplo, a sistemas tutores inteligentes e assistentes pessoais de aprendizagem. Mas também já foi. Ouviu-se que estamos na primavera deste fenómeno. Falou-se de tecnologias, teorias, práticas, pedagogias e dificuldades. E de conceitos novos como educação baseada em dados, learning ou academic analytics e o que nos mostram as últimas descobertas da neurociência.

Pelo palco passaram Benedict du Boulay, da International Society for Artificial Intelligence in Education, Marina Bers, investigadora em robótica e programação na infância na Tufts University (EUA), Matthew Montebello, da Universidade de Malta, e Scott Bolland, investigador e empreendedor australiano pioneiro em tecnologias de IA aplicada à educação; a nível nacional intervieram Dalila Durães, da UMinho, Dulce Mota, do Instituto Superior de Engenharia do Porto, Hélder Coelho, do Colégio Doutoral Mente-Cérebro da Universidade de Lisboa, Isabel Alexandre, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, e Sérgio Ferreira, da Escola Básica e Secundária das Flores (Açores). O evento encerrou com uma mostra de práticas de integração das tecnologias em escolas portuguesas.



Uma escola imaginada ao contrário
 
No congresso também se sonhou. Imaginou-se uma escola ao contrário, em que o que é aborrecido é pouco e o que é divertido e entusiasmante é muito ou é, pelo menos, mais. Para os alunos e para os professores. Com os seus assistentes, o professor terá oportunidade de se centrar no fundamental, isto é, na pedagogia e nos processos de aprendizagem. Já para os alunos antecipam-se tutores virtuais capazes não só de identificar os talentos e dificuldades de cada um, mas também de preparar exercícios ou abordagens personalizadas. Será uma educação em que a informação certa chega ao aluno no momento certo, prevê Scott Bolland.
 
Mas e se, em determinado momento, o aluno ou professor não quiserem que seja um programa a decidir o seu estilo de aprendizagem? Ou que se saiba o seu estado de espírito? E se quiserem ser eles próprios a tomar estas decisões? Como saber o que o programa decide pelo aluno ou pelo professor? Os riscos também foram para aqui chamados. A IA é tanto melhor quanto mais invisível, concordaram os investigadores e engenheiros em geral.

“Mas são algoritmos e algoritmos são opções. Onde ficam as esferas de decisão?”, questionou António Osório, professor do Instituto de Educação da UMinho. Para dar respostas e usar bem os avanços científicos e tecnológicos, é preciso criar redes interdisciplinares que trabalhem em colaboração, referiu o responsável pela organização do evento. No final, ficou a aparente segurança de que as máquinas nunca serão humanas e que caberá sempre ao ser humano assegurar que a IA faz o que deve e não o contrário.