Casal de ex-alunos faz sucesso no país do Brexit

31-05-2019 | Catarina Dias

Na missa de finalista de Paulo Gomes em 2009

Susana Sousa terminou o curso dois anos depois

Paulo na Qualifica - Feira de Educação, Formação, Juventude e Emprego 2009 em representação da UMinho

Susana no Institute of Cancer Research, em Chelsea, onde está a realizar o pós-doutoramento

Paulo é analista sénior na Virgin Atlantic Airways, uma das maiores companhias aéreas do Reino Unido

Com os diretores da empresa na cerimónia em que foi destacado como um dos 10 colaboradores que mais contribuiu para o seu desenvolvimento em 2018

Numa vinda a Portugal, em 2019

O casal alumni numa viagem a Cuba, em 2018

Em Londres, Reino Unido, em 2016

A explorar Barcelona, Espanha, em 2015

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Paulo Gomes é formado em Gestão e analista sénior na Virgin Atlantic Airways. Susana Sousa licenciou-se em Biologia Aplicada. Hoje trabalha no Institute of Cancer Research. Uma dupla para conhecer.




A Susana é de Guimarães e o Paulo de Vila Verde. Já se conheciam antes de entrar na UMinho? Como se conheceram?
Susana: Conhecemo-nos em 2009 no início do meu segundo ano de licenciatura. O Paulo era finalista de Gestão, mas já tinha frequentado Biologia Aplicada (BA) no primeiro ano de universidade. Por isso, era costume juntar-se aos antigos colegas no acolhimento aos novos alunos. Como decidi não participar na praxe, só nos conhecemos mais tarde [risos].
Paulo: Foi uma história engraçada. Uma professora nossa pediu-nos para distribuir um inquérito pelos campi, no âmbito de uma cadeira curricular de terceiro ano. Como conhecia muito bem o pessoal de BA, decidi fazer-lhes uma visita. Foi aí que conheci a Susana. Apanhei-a a copiar, por isso tive de tomar medidas [risos].

Como se decidiram por um curso nesta universidade, no caso Biologia Aplicada (Susana) e Gestão (Paulo)?
Susana: Sempre fui uma apaixonada pela biologia. Estudar em Braga permitia-me permanecer em casa dos meus pais, em Guimarães, pelo menos durante a licenciatura. Isso, juntamente com a boa reputação da UMinho e do curso, fez com que esta fosse a minha primeira opção aquando da candidatura ao ensino superior.
Paulo: O interesse pela gestão surgiu apenas no segundo ano de universidade. Só depois de ter ingressado em BA é que percebi que não era bem aquilo que pretendia para o meu futuro. Pedi logo transferência. Nunca é tarde para mudar de direção e, no meu caso, acabou por ser uma decisão acertada. A proximidade, o reconhecimento da marca UMinho e a qualidade do seu corpo docente pesaram claramente na minha escolha.

Recordam-se do primeiro dia na UMinho?
Susana: Fui fazer a matrícula com o meu irmão João, que entrou no mesmo ano em Biologia e Geologia. Fomos recebidos por estudantes mais velhos que nos guiaram pelos vários stands. A integração foi um processo natural. Optei por não participar na praxe, enquanto a maioria dos meus colegas passava parte do tempo livre nesse tipo de atividades. Tirando esse tempo em que não estava com eles, o ambiente era ótimo e nunca senti qualquer entrave na integração, quer por parte dos colegas de curso, quer por parte dos colegas de anos mais avançados.
Paulo: Recordo-me da azáfama do primeiro dia e da quantidade de flyers que colecionei. Adorei os primeiros meses a todos os níveis e as atividades que contribuíram para a minha integração. Muitos desses momentos ficarão gravados na minha memória para sempre.



Estórias que ficam para sempre

Que memórias guardam da vida académica?
Susana: Tínhamos uma sala alocada para a nossa turma, onde decorriam todas as aulas teóricas. Lembro-me de passar bastante tempo nesse local, mesmo fora do horário de aulas. Também passei bons momentos na esplanada do Complexo Pedagógico III. E recordo-me, claro, de alguns professores que me marcaram mais, especialmente devido à matéria lecionada. Eu e o Paulo chegamos a colaborar com o Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem (GCII), nomeadamente como monitores do “Verão no Campus”. Foram experiências enriquecedoras que aconselho vivamente!
Paulo: Os primeiros meses ficam sempre registados na memória pelo fator da novidade. Depois ficam os amigos, os colegas, os trabalhos de grupo e as várias interrupções para jogar matrecos, as noitadas a estudar para os testes, a biblioteca, algumas cadeiras, algumas aulas, alguns professores, as colaborações com o GCII e, claro, a experiência no seu todo.

Saíram da UMinho no início da década de 2010. Como tem sido a evolução profissional?
Susana: Tive a possibilidade de realizar um projeto em laboratório no último ano do curso de BA. Escolhi fazê-lo no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), da Escola de Medicina da UMinho, com a professora Fátima Baltazar, que desenvolve pesquisa no âmbito do metabolismo do cancro. Com esse projeto descobri uma nova paixão - a investigação - e que queria continuar a estudar nessa área. Depois de uma tese de mestrado financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, consegui uma bolsa de doutoramento Marie Curie Early Stage Researcher na Universidade de Manchester. Fiz as malas em setembro de 2014. O meu trabalho de doutoramento foi recentemente publicado na revista científica Cell Reports, do conceituado grupo Cell, o que é excelente! Estou agora a trabalhar no Institute of Cancer Research, em Londres, onde investigo o impacto do metabolismo na remodelação da cromatina e a sua contribuição na manutenção da estabilidade genómica.
Paulo: Nem acredito que já passaram nove anos... [risos]. Entrei na Deloitte Consulting dois meses após terminar o curso de Gestão e por lá fiquei três anos, assumindo funções de analista, consultor e, finalmente, consultor sénior. Foi, sem dúvida, a melhor empresa para ingressar no mercado de trabalho, não só pelas inúmeras possibilidades de desenvolvimento e crescimento, mas também pela exposição a que somos sujeitos. Ao mesmo tempo consegui concluir o meu mestrado em Marketing, na Universidade do Porto. Em 2013 fui convidado pela Carnes Landeiro para desenvolver a área de controlo de gestão. Embarquei na minha primeira experiência internacional dois anos depois, como analista de marketing na Timor Telecom. Há três anos fixei-me em Londres e comecei entretanto a trabalhar na Virgin Atlantic Airways, onde fui distinguido como um dos 10 colaboradores que mais contribuiu para o desenvolvimento da empresa no ano de 2018. Vou assumir a partir de junho a gestão da equipa de Commercial Insight na área de carga. Quero inovar na forma como se olha para o negócio de carga na empresa.
 


“As diferenças culturais enriquecem a nossa experiência”

Como foi a adaptação a um novo país?
Susana: Foi bastante fácil. Creio que ajudou vir com o mindset certo, de que era o que queria para o futuro e o passo certo a dar naquela fase da minha vida, apesar de ter plena consciência dos aspetos menos positivos, como estar longe da família e do Paulo. Acho que os britânicos não são assim tão diferentes dos portugueses em termos de costumes, tirando o facto de gostarem de jantar às 18h00 e deitarem-se antes das 22h00! [risos] Em Manchester, tive a sorte de fazer parte de um grupo que me acolheu da melhor forma, ajudando-me em todas as burocracias chatas. Foi a minha família durante aquele período. Ao contrário da ideia generalizada, os ingleses são muito simpáticos e amistosos e o clima também não é assim tão mau!
Paulo: Os primeiros meses fora de Portugal são sempre os mais desafiantes em termos de adaptação. Ainda assim, consegui ajustar-me com relativa facilidade aos vários países pelos quais fui passando. As diferenças culturais enriquecem a nossa experiência e não as vejo como um entrave à adaptação.

A Susana mudou-se para o Reino Unido em 2014, antes do referendo sobre o Brexit. O Paulo chegou em 2016, já o Brexit tinha sido votado. De que forma sentiram essa instabilidade política?
Susana: A comunidade científica é contra o Brexit. No dia a seguir à votação, sentiu-se um clima pesado e de desilusão. Recordo-me de o meu orientador de doutoramento dizer que se sentia como se tivesse perdido alguém próximo... Passado o choque inicial, a vida continuou a correr normalmente e não senti qualquer mudança. Só nos últimos meses é que se voltou a falar mais do assunto, principalmente devido à aproximação da data de saída e à falta de entendimento no governo. A ausência de acordo poderá ter grandes repercussões na investigação, em termos de financiamento e até na simples compra de reagentes vindos da União Europeia.
Paulo: A palavra Brexit passou a fazer parte do meu quotidiano pelo impacto que tem na economia britânica, em particular nas companhias aéreas. Fora do ambiente de trabalho, é também tema de conversa. Ainda assim, o impacto será sempre reduzido até ser tomada uma decisão.

Como é o vosso dia normal?
Susana: Trabalho no centro de Londres, que fica a 30 minutos de comboio de casa. Por norma, saio de manhã com o Paulo para aproveitar a boleia. Ele deixa-me na estação de comboios e segue para o escritório. Chego ao laboratório pelas 9h15 e, dependendo das experiências e reuniões programadas, saio por volta das 18h00-19h00. O Paulo tenta sempre conciliar a hora de saída com a minha chegada à estação e dá-me boleia de volta para casa. Quando não é possível faço uma caminhada de 15 minutos. No final do dia, fazemos as coisas normais que faríamos se estivéssemos em Portugal, como ir ao ginásio e às compras, preparar o jantar e as marmitas para o almoço e ver televisão.
Paulo: É basicamente isso! Às vezes digo à Susana que não posso dar-lhe boleia porque ainda estou na empresa, e na verdade até estou... não propriamente a trabalhar, mas sim a jogar ténis de mesa! [risos]

Que influência teve a UMinho nas vertentes pessoal e profissional?
Susana: Em termos pessoais, teve uma influência enorme por ter conhecido o Paulo. Olhando para o lado profissional, a formação deu-me uma visão muito ampla das várias áreas da biologia e daquilo que se pode fazer em cada uma delas. Trabalhar num laboratório na fase final da licenciatura – algo que não acontece noutros cursos do país – foi também uma mais-valia importante, pois colocou-me em contacto com o mundo da investigação. Além disso, o facto de a UMinho e o próprio curso de BA serem tão conceituados acaba por ser bem visto na hora de concorrer a outras instituições, como foi o meu caso, ao concorrer ao mestrado na Universidade do Porto e ao doutoramento na Universidade de Manchester.
Paulo: A minha passagem pela UMinho foi marcante por ter conhecido a Susana e amigos que mantenho até hoje. Profissionalmente, foi determinante porque me facultou todas as ferramentas necessárias para enfrentar o mercado de trabalho. Nunca senti estar menos preparado do que os meus colegas de trabalho, pelo contrário!

De que forma o Reino Unido olha para Portugal e para os profissionais formados cá?
Susana: Os nossos profissionais são muito bem vistos em geral, não só no Reino Unido, mas um pouco por todo o mundo. Por exemplo, das 11 bolsas atribuídas no âmbito da Marie Curie Network, que inclui universidades de vários países da Europa, três foram para cientistas portugueses. Foi a única nacionalidade repetida.
Paulo: O feedback dos que visitam Portugal é sempre positivo. Vamos fazendo a nossa parte em termos de divulgação junto daqueles que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer o país [risos].

Vêm a Portugal com frequência?
Susana: Claro! Afinal, estamos a apenas duas horas de voo do Porto. As saudades são muitas, principalmente da família, dos animais domésticos, dos amigos e, claro, de alguns pratos que dificilmente encontramos ou conseguimos recriar por cá.
Paulo: Continuamos a manter o contacto com amigos da universidade através das redes sociais ou quando vamos a Portugal. Por vezes também recebemos visitas!

Pensam em regressar mais tarde?
Susana e Paulo: Gostamos de viver aqui e estamos bem integrados, mas queremos voltar um dia. Não sabemos quando, ainda é uma incógnita. Vai depender muito das condições que nos oferecerem.



   As preferências de Susana

   Um livro. “Marley & Me”, de John Grogan.
   Um filme. “Os Miseráveis”, dirigido por Tom Hooper.
   Uma música. “Don’t stop me now”, dos Queen.
   Um clube. Vitória Sport Clube, claro.
   Um desporto. Body combat.
   Um passatempo. Séries televisivas.
   Uma viagem. Safari em África.
   Um prato. Bacalhau com natas.
   Um vício. Gomas.
   Uma personalidade. Stephen Hawking.
   Um momento. Ouvir do júri, no final da minha defesa de doutoramento, “Congratulations Dr. Susana Sousa, you’ve
   been approved!”.
   Um sonho. Ver resolvido o problema dos animais de rua em Portugal.
   Uma curiosidade. Se não trabalhasse em biologia celular, teria seguido a área da ecologia.
   Uma frase. “We are what we repeatedly do. Excellence, then, is not an act, but a habit”.
   A UMinho. O lugar que me deu uma base forte para a minha vida profissional e onde conheci o meu companheiro
   de vida.
 



   As preferências de Paulo

   Um livro. “Equador”, de Miguel Sousa Tavares.
   Um filme. “A Lista de Schindler”, dirigido por Steven Spielberg.
   Uma música. “Estou além”, de António Variações.
   Um clube. Sporting Clube de Braga, claro.
   Um desporto. Futebol.
   Um passatempo. Ténis de mesa.
   Uma viagem. África do Sul.
   Um prato. Qualquer prato com bacalhau.
   Um vício. Chocolate.
   Uma personalidade. Winston Churchill.
   Um momento. Assistir in situ aos festejos dos timorenses face à vitória de Portugal no Europeu de Futebol.
   Inacreditável!
   Um sonho. Ver Portugal ocupar uma posição de destaque no panorama internacional a nível político e económico.
   Uma curiosidade. Não gosto de perder nem a feijões!
   Uma frase. “We shall go on to the end. (...) We shall never surrender!”, de Winston Churchill.
   A UMinho. Conhecimento.