O IB-S foi inaugurado em 2017. Com que objetivo?
Aparece num contexto de desafios ambientais muito complexos com que a humanidade se depara atualmente e pretende contribuir para a sua mitigação. O IB-S pretende ser uma plataforma de mobilização de competências existentes nos diferentes centros de investigação da Universidade do Minho para, em equipas multidisciplinares, permitir endereçar problemas ambientais complexos que seria difícil ou mesmo impossível que os centros individualmente pudessem abordar com eficácia. Adicionalmente, o objetivo é que a investigação desenvolvida no âmbito do Instituto seja realizado em grande proximidade com o tecido empresarial de modo a que as soluções desenvolvidas no âmbito dos projetos possam chegar com rapidez ao mercado para um maior impacto na sociedade.
Que tipo de projetos e atividades são desenvolvidos?
O IB-S desenvolve projetos de investigação fundamental e aplicada, com especial incidência para a aplicada, em áreas como mar, economia circular, capital natural, reabilitação urbana, digitalização da construção e telecomunicações sustentáveis. Neste momento, conta com 41
projetos de I&D, que correspondem a um valor global de 10.5 milhões de euros. No entanto, pretende ser mais do que um Instituto de investigação. Tem apostado também no desenvolvimento de atividades que integrem os conceitos de arte e sustentabilidade e de ciência cidadã para sensibilizar as populações, com especial incidência nos jovens, e para a necessidade da preservação do ambiente e da adaptação e importância dos comportamentos individuais para uma maior preservação do nosso ambiente.
Que balanço faz do percurso até ao momento?
É amplamente positivo, apesar das dificuldades naturais que um conceito inovador tem sempre numa fase de arranque e num contexto de limitações financeiras. Para além disso, nem sempre é fácil o diálogo entre diferentes especialidades para projetos conjuntos, já que muitas vezes implica que os investigadores tenham que sair das suas zonas de conforto. No entanto, a recetividade tem sido muito positiva, porque existe a noção de que as temáticas abordadas pelo IB-S são de facto bastante atuais e prementes. Posso dar um exemplo de um caso de sucesso. Antes da existência do IB-S, a investigação na área do mar na UMinho tinha uma expressão relativamente reduzida. O IB-S colocou o mar como uma área estratégica e conseguiu congregar investigadores de diferentes centros a dialogar e a submeter candidaturas a projetos com taxas de sucesso bastante significativas. Hoje, o IB-S é uma entidade incontornável a nível nacional no que diz respeito à investigação nesta área.
Incontornável?
Sem dúvida. Por exemplo, foi convidado pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para ser um dos Polos Nacionais do
AIR Centre, um centro de investigação Internacional para a alavancagem do crescimento baseado no Atlântico, e de ter sido convidado pela
ONU para fazer parte do grupo de trabalho que irá desenvolver uma metodologia para ser utilizada a nível mundial para a contabilização da riqueza que o mar e os seus ecossistemas representam no conceito chamado
oceans accounting, que será uma ferramenta essencial para a exploração sustentável dos recursos marinhos dos diferentes países.
Que iniciativas destaca deste percurso?
Felizmente, a nossa atividade tem sido bastante intensa e diversificada, pelo que se torna complicado destacar iniciativas, deixando outras de parte, também muito importantes para o Instituto. No entanto, tendo em consideração a sua diferenciação, destacaria duas. Em primeiro lugar, as Cátedras-Empresa. Este é um modelo implementado pelo IB-S para uma maior ligação com as empresas. Neste modelo, as empresas investem na contratação de uma pequena equipa de investigadores liderada por um investigador sénior (
chair holder) que trabalha em exclusivo em temáticas de interesse conjunto da empresa e do IB-S. A propriedade intelectual produzida pelo trabalho destas equipas é dividido entre a empresa, a Universidade e o próprio
chair holder. Neste momento, o IB-S tem duas Cátedras-Empresa nas temáticas da “Digitalização da Construção” (com a dst) e das “Telecomunicações Sustentáveis” (com a Proef e a dstelecom). O objetivo é que, até ao início de 2021, o IB-S possa contar com mais duas Cátedras deste tipo com empresas de referência. Em segundo lugar, destacaria a relação com os municípios. O IB-S considera essa relação estratégica no seu desenvolvimento. Dou alguns exemplos. Com o Município de Braga foi recentemente assinado um protocolo para o desenvolvimento do
Plano de Sustentabilidade para Braga 2030. Com o Município de Esposende está em curso o projeto
OMARE, para fazer o mapeamento de todo o
Parque Natural do Litoral Norte e a criação de uma zona piloto para o teste de soluções para problemas que afetam a costa portuguesa. Ainda com o Município de Esposende, o IB-S colabora com o projeto
Esposende Smart City, em conjunto com o grupo dst. Com o Município de Viana do Castelo será inaugurado durante 2020 o
Observatório do Litoral Norte, que será uma instalação laboratorial junto à praia Norte, servindo como posto avançado de investigação e também de divulgação, numa iniciativa conjunta entre o município, o IB-S, o CiiMar e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
Laboratório Colaborativo para a Água de Consumo pode ser criado
Como avalia a recetividade do público?
A recetividade tem sido muito positiva às nossas iniciativas que têm envolvido a sociedade. A temática ambiental é uma preocupação transversal e convoca todas as pessoas, independentemente da idade ou condição social. O que sentimos é uma grande mobilização para estas temáticas e todas as ações em que interagimos com a sociedade têm sido excelentes. Penso também que é cada vez mais importante aproximar a Universidade, e o conhecimento aqui produzido, do cidadão comum, numa linguagem mais simples, mas eficaz, para que as mensagens principais passem e se reduza muito do que é especulação e conta-informação que circula e que desvia a atenção do público para aquilo que é realmente fundamental.
Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
O IB-S continuará a apostar nas suas principais atividades: a investigação e as candidaturas a projetos nas suas áreas. Além disso, tem como objetivo a promoção de um laboratório colaborativo ( CoLab) na área da Água de Consumo, uma lacuna que existe em Portugal e que nos parece absolutamente fundamental e estratégico criar, tendo em consideração os desafios que se vão colocar no país nesta temática devido às alterações climáticas. O IB-S pretende também continuar a apostar em temáticas emergentes, como a área do aeroespacial e da inteligência artificial ao serviço da proteção ambiental.
E os principais desafios?
São os desafios transversais a outras instituições de investigação e estão relacionados com dificuldades de acesso a financiamento. Também o enquadramento institucional do IB-S dentro da UMinho está a ser repensado à luz dos estatutos.
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