“A investigação do CICP tem valor académico e mais-valias para a sociedade”

24-04-2020 | Pedro Costa

Miguel Ângelo Rodrigues é diretor do Centro de Investigação em Ciência Política (CICP) e professor auxiliar do Departamento de Relações Internacionais e Administração Pública da Escola de Economia e Gestão da UMinho

Johan Galtung (segundo à esquerda), fundador dos Estudos da Paz, da rede TRANSCEND e do Peace Research Institute Oslo, no seminário "Five decades of Peace research: past and future", na EEG, em outubro de 2017

Paulo Vila Maior (Universidade Fernando Pessoa), Tiago Dias (Agência Lusa) e Sandra Dias Fernandes (UMinho) no debate "A(s) Europa(s) em crise: da Ucrânia ao projeto europeu", na EEG, em outubro de 2015

O primeiro "CICP PhD Seminar" para estudantes de doutoramento decorreu na EEG, em novembro de 2019

Momento do ENERI 2017 - Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais, realizado em Braga com apoio do CICP

As atividades do Centro têm reunido bastante interesse dos académicos e da sociedade civil

Cartazes da "Summer School" do CICP realizadas em Évora (2016) e Braga (2017, 2018)

O xadrez das relações internacionais é um tema transversal à atuação do CICP

O "Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses" (na capa, a edição de 2018) é um projeto com muitos anos que tem a coorganização do CICP

Capas da edição 1 (2005) e 20 (2019) do "Perspectivas - Journal of Political Science", publicado pelo CICP

Capa dos livros "Enciclopédia da União Europeia" (2017) e "As Nações Unidas: a sociedade internacional e os desafios da governança global" (2020), coorganizados por investigadoras do CICP

O CICP tem a sua sede na Escola de Economia e Gestão da UMinho, em Braga (na foto), e um polo na Universidade de Évora

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Miguel Ângelo Rodrigues, do Centro de Investigação em Ciência Política, é o convidado das conversas com diretores dos centros de I&D da UMinho.




Centro de Investigação em Ciência Política (CICP) foi fundado em 2015, fundindo os extintos Núcleo de Estudos em Administração e Políticas Públicas (NEAPP) e Núcleo de Investigação em Ciência Política e Relações Internacionais (NICPRI). Graças ao esforço e à capacidade dos seus investigadores, tem-se mantido no topo do ranking da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que lhe atribuiu a nota máxima de Excelente na recente avaliação plurianual. Desta forma, tem assegurado a sua posição como uma das melhores unidades de investigação nacionais na área de Ciências Jurídicas e Ciência Política, sendo igualmente uma referência a nível internacional. O diretor do CICP, Miguel Ângelo Rodrigues, é professor da Escola de Economia e Gestão (EEG) da UMinho e revela as dinâmicas deste Centro.


O CICP surgiu com que motivações?
Teve a sua origem enquanto centro de investigação no início do ano de 2015; contudo, a sua história é bem mais longa, remontando ao ano de 2002. Resulta da fusão de duas unidades de investigação de sucesso da EEG: o NEAPP e o NICPRI, ambos da mesma área mãe - a Ciência Política - e com a classificação máxima a nível nacional. A motivação para a união destes centros foi fundir o seu capital humano e intelectual de modo a melhor promover o desenvolvimento e divulgação da sua investigação científica e de atividades e outras iniciativas de prestação de serviços à comunidade dentro dos seus domínios de investigação. Naturalmente que o CICP não se reduz simplesmente à soma dos dois núcleos anteriores. O seu trabalho desenvolvido desde 2015 é muito positivo, o que pode ser confirmado pelos resultados de avaliação da FCT às unidades I&D nacionais, que lhe atribuiu nas duas avaliações desde então a nota máxima (Excelente).
 
Como se articula com as entidades parceiras?
Podemos afirmar que a força do CICP centra-se na sua variedade de tópicos dentro da área mãe da Ciência Política, na variedade de tipos de publicações e, também, na sua variedade geográfica, uma vez que o centro está dividido em dois polos: um na Universidade do Minho, enquanto instituição proponente, e outro na Universidade de Évora, enquanto instituição participante, para além de ter membros integrados em diferentes instituições de ensino superior, como é o caso da Universidade de Coimbra e o Instituto Politécnico de Bragança.

Como descreveria o espaço e as infraestruturas do CICP?
Para quem ainda não o conhece, terá uma boa oportunidade de o fazer ao assistir a um dos nossos seminários, ler as nossas publicações ou assistir aos nossos comentários na comunicação social, pois o CICP não é representado por um local específico e exclusivo. Está integrado na EEG e partilha os recursos desta Escola com os seus departamentos e outros núcleos de investigação. Os desafios vão crescer a partir de 2020. O CICP vai atribuir bolsas de doutoramento e de pós-doutoramento, o que naturalmente irá colocar maior pressão sobre a capacidade limitada das infraestruturas.
 
Tem os recursos que deseja?
Estou confiante que haverá uma solução que possibilite responder aos novos desafios de investigação, ao mesmo tempo que continuam a ser asseguradas as tarefas administrativas e de secretariado.


Quatro grupos multidisciplinares

Que equipas e unidades de investigação é que o CICP alberga?
O Centro articula perspetivas diferenciadas, mas complementares. A estratégia é desenvolvida por quatro grupos de investigação, interdisciplinares e interligados. O Grupo de Administração e Políticas Públicas trata temas relacionados com a Gestão Pública e as Políticas Públicas; o de Governação e Democracia aborda temas sobre o Comportamento Político e a Governação Multinível; o de Estados, Organizações Internacionais e Desafios nas Relações Internacionais Contemporâneas aborda a investigação concentrada em Portugal, a União Europeia e a Segurança Internacional Contemporânea; e o que trabalha a Sociedade, Europa e Dinâmica Global foca-se nas perspetivas sobre Europa e Atlântico; Poder, Direitos Humanos e Dinâmicas da Integração Regional. A organização do CICP não é tão estática quanto esta divisão aparenta, pois os temas de investigação são muitas vezes transversais e os membros colaboram entre grupos, sendo que os próprios temas e linhas temáticas estão interligadas.

Que balanço faz do percurso deste Centro até ao momento? 
A missão do CICP é garantir a produção de uma investigação de excelência no seu campo. Neste sentido, podemos afirmar que, através do esforço dos seus membros, tem conseguido cumprir o seu objetivo, mantendo-se no topo do ranking de classificação da FCT. Isto significa que tem conseguido assegurar a sua posição como uma das melhores unidades de investigação em Ciências Jurídicas e Ciência Política ao nível nacional, bem como um centro de referência a nível internacional. Obviamente, esta situação deixa-nos orgulhosos do nosso esforço e trabalho, mas, no entanto, cientes de que existe muito espaço para melhoria.

Qual é o principal fator da afirmação do CICP? 
Acreditamos que a maior força é o trabalho de equipa, sendo a fina articulação entre os diferentes subgrupos de investigação os elementos estruturantes desta força e identidade. O desafio é simplesmente continuar a crescer com rigor e profissionalismo, em conjunto. Temos também estabelecido pontes entre o domínio da ciência e a sociedade civil, procurando que a investigação, além do valor académico, seja uma mais valia para os cidadãos e as instituições.

Que eventos destaca?
Ao longo dos anos, o CICP organizou e promoveu iniciativas de ligação da investigação científica à sociedade. Por exemplo, o Índice de Transparência Municipal é um projeto em colaboração com a TIAC - Transparência e Integridade, Associação Cívica; permite ao cidadão e ao tomador de decisão medir o grau de transparência dos governos locais. A colaboração nas edições do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses também contribui para o aumento da transparência e capacidade de resposta dos executivos em relação aos eleitores. Na UMinho, podemos destacar a organização de duas Summer Schools em 2017 e 2018 com bastante sucesso, subordinadas aos temas “Unpacking new ways for the migration/refugee challenge” e “Migrants and refugees at the crossroads of the EU Crisis”. Nos últimos três anos recebemos também o professor Bertrand Badie, da Sciences Po Paris (França), uma referência nas relações internacionais, como orador no seminário "A school of thought in International Relations”, e o professor Johan Galtung, fundador da disciplina de Estudos da Paz, do Peace Research Institute Oslo (Noruega) e da rede TRANSCEND, como orador no seminário "Five decades of Peace research: past and future". Em 2019, o professor Gary King, da Universidade de Harvard (EUA) e diretor do Institute for Quantitative Social Science, foi o orientador do CICP Short-Course sobre “Metodologia em Ciência Política”, um evento de dois dias que atraiu docentes, investigadores e alunos de universidades de todo o país. No ano passado decorreu também a primeira edição do CICP Ph.D. Seminar, organizada para os alunos dos programas doutorais, no qual lhes foi dada a oportunidade de apresentarem as suas investigações em curso, recebendo feedback de professores, investigadores e colegas.



Cinco objetivos para os próximos tempos

Como avalia a recetividade dos públicos ao vosso trabalho?
O trabalho do CICP é reconhecido. Os nossos membros são convidados a integrar networks e projetos de investigação internacionais, têm cargos de relevo em organizações dedicadas à investigação e fazem parte dos corpos editorias de reconhecidas revistas internacionais. Pelo público em geral, podemos destacar a boa recetividade e participação nos eventos que organizamos. Dois membros nossos foram distinguidos em 2019: o Prémio Enrique Fernández Peña de Historia de la Contabilidad à professora Delfina Gomes e às suas coautoras pelo artigo “The portrayal of early accountants in nineteenth century Portuguese literature” e o Prémio Fundação Calouste Gulbenkian - categoria História da Presença de Portugal do Mundo, atribuído pelo Ministério da Cultura ao professor Lúcio de Sousa pelo seu livro “The Portuguese slave trade in early modern Japan”. A qualidade da investigação do Centro é também reconhecida através da publicação das nossas investigações em revistas internacionais de alta qualidade e livros em editoras de circulação internacional, assim como as coautorias com prestigiados investigadores mundiais. Adicionalmente, os nossos membros são frequentemente convidados para darem o seu comentário na comunicação social - televisão, jornais, rádio, sites - e contribuírem enquanto especialistas na análise de temas atuais, como a descentralização em Portugal, a participação política nas eleições, as relações internacionais, a situação política de outros Estados, entre outros.

Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
A nossa missão - garantir investigação de excelência no domínio da Ciência Política - deve ser realizada através da persecução de cinco objetivos gerais: manter a produção de investigações de qualidade; internacionalizar o centro, assegurando uma posição/relevância no plano internacional; promover a transferência de conhecimento e a disseminação de resultados para a sociedade civil; antecipar o futuro, investindo no potencial promissor dos alunos de doutoramento e nos programas doutorais; e promover o emprego científico, recrutando investigadores promissores para bolsas de pós-doutoramento que se encaixem na missão e nos objetivos do CICP. Esta é a estratégia delineada para o CICP para o próximo ano.

Em que medida projetos como o CICP contribuem para a missão da Universidade?
A Universidade tem como missão gerar, difundir e aplicar conhecimento, assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos. O CICP partilha estes valores e tem, ao longo dos anos, contribuído para tornar os objetivos desta nobre instituição uma realidade, destacando-se entre os melhores centros pela excelência da sua investigação, pelo esforço na divulgação de conhecimento através de atividades e eventos e pela promoção do potencial dos alunos, investindo nomeadamente nos seus doutorandos.

Gostaria de deixar alguma mensagem final?
A nossa mensagem, hoje e sempre, é direcionada a alunos e investigadores de Ciência Política, Administração e Políticas Públicas, Relações Internacionais e ciências afins, realçando que existe lugar para eles no CICP, quer através do concurso a um dos nossos programas doutorais, ao convite para assistir aos eventos científicos ou ao desafio de publicar as suas investigações na revista do Centro, a Perspectivas – Journal of Political Science. Convidamos todos para nos seguirem nas redes sociais e estarem a par das oportunidades que oferecemos, das atividades que organizamos e dos contributos científicos que produzimos. Por último, e considerando os tempos difíceis que enfrentamos neste momento, deixamos uma mensagem de serenidade e coragem a todos os membros desta academia e aos leitores do NÓS.