“De repente, estávamos a escrever na folha Word de um ecrã Macintosh minúsculo!”

17-02-2021 | Paula Mesquita | Fotos: Nuno Gonçalves

A assistente técnica dos Serviços dos Sistemas de Informação e Comunicações é hoje uma das medalhadas na cerimónia do 47º aniversário da UMinho, por cumprir 30 anos na função pública

Começou a trabalhar em 1987 no antigo Centro de Informática da UMinho, junto ao Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga

Em 1988, participou no almoço comemorativo do 14º aniversário da UMinho, no Hotel Turismo, em Braga, com o então reitor Sérgio Machado dos Santos a cortar o bolo

No mesmo almoço, entre colegas; da esquerda à direita: Paula Anjo, Albano Serrano, Manuela Ramos, sr. Abreu e Fátima Silva

A medalha que hoje recebe é o “reconhecimento mútuo de colaboração, dedicação e orgulho - é o efeito boomerang”, define

No CIUM, em 2003. O que mais a marcou em três décadas de trabalho foi a evolução da tecnologia, que em contexto académico tem sido "desafiante e fascinante”

Em dezembro de 2018, entre colegas dos SCOM. Em cima: Mauro Fernandes, Paulo Gonçalves, Amândio Antunes, Paulo Valverde, Nelson Nunes e Marco Teixeira; em baixo: Raul Ferreira, Manuela Ramos, José Manuel Gonçalves e Augusto Oliveira

Manuela Ramos entende que o mundo das plataformas digitais continua a ser promissor e estará "pronta para poder evoluir”

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Manuela Ramos

Nasceu há 55 anos em Luanda, Angola. Aos 8 anos veio para Portugal. Formou-se em secretariado e informática, o seu "passaporte" para o Centro de Informática da UMinho, em 1987. Disso não se desligou: PCs, teclados, códigos, monitores... e a evolução continua. A assistente dos Serviços dos Sistemas de Informação e Comunicações é hoje uma das medalhadas no aniversário da UMinho, por 30 anos de função pública.


Como foram os seus primeiros anos em Portugal?
Vim com a minha mãe, que logo a seguir regressou a Luanda para tratar da “papelada”, numa fase iminente da independência em Angola. Enquanto não foi possível restabelecerem-se, eu fiquei como interna, no antigo Colégio Dublin em Braga, ao pé da Igreja do Carmo. E ali passei três anos. Após o 25 de Abril de 1974, houve muita turbulência social. Da janela do meu quarto, no colégio, ainda vi a sede do PCP a arder! Quando foi, finalmente, possível reunir-me com os meus pais, ficámos a viver em Maximinos e, desse ano em diante, prossegui os meus estudos. Primeiro, na escola André Soares, depois na Secundária D. Maria II e, por fim, fiz formação na área da Informática na Escola Profissional Tecla.
 
Foi essa formação que lhe abriu as portas na Universidade do Minho?
Creio que sim! Cheguei à UMinho graças a uma carta de apresentação que enviei em 1987 para os Recursos Humanos. Obtive logo resposta, informando-me que precisavam de pessoal para secretariar cursos financiados pelo Fundo Social Europeu, na área da Informática. Concorri com o curso de Secretariado de Direção e um outro de Programador de Computadores, em Cobol (COmmon Business Oriented Language) e RPGII (Report Program Generator). Convocaram-me para uma entrevista no então Centro de Informática (CIUM) e ali fiquei a trabalhar de imediato.
 
O que começou por fazer?
Iniciei funções enquanto secretária do professor Alberto Proença, presidente do CIUM, que funcionava num edifício junto ao Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga. Desempenhei tarefas administrativas relacionadas com o tratamento de dados sobre os cursos que eram, então, ministrados pelo Fundo Social Europeu. No ano seguinte, eu e a minha colega Fátima Silva fomos convidadas pelo professor Alberto Proença para dar apoio à secretaria. Eram funções exigentes. Na altura, o CIUM estava envolvido no projeto MITO, que visava incrementar a acessibilidade da comunidade académica e facilitar a aquisição de PCs. Para tal, estabeleceu-se parcerias com empresas nacionais e internacionais. O professor Alberto Proença procurava constantemente a inovação; queria colocar a UMinho no topo da informática e obter o reconhecimento nacional.
 
Houve também um projeto de cultura e cidadania em que o CIUM se envolveu.
Era a Folha Informativa: um desdobrável cujos conteúdos, salvo erro, eram da responsabilidade do antigo Hotel Turismo e pretendia divulgar os eventos culturais que aconteciam, a cada mês, em Braga. Nessa época, o computador ainda era um bem muito raro e o CIUM pôde abrilhantar o projeto com o PageMaker, da Adobe! [sorriso]. Paginávamos o folheto e dávamos-lhe o arranjo necessário para ser distribuído pela população.

 
Da datilografia à "evolução abismal" da era digital

O crescimento e reconhecimento da UMinho concretizou-se na criação dos campi. Como foi a mudança?
Com o crescimento da universidade e o início da sua grande expansão, o CIUM mudou-se para as instalações do campus de Gualtar. O universo “caseirinho” que caraterizava os funcionários acabou por se ir dissipando a partir dessa altura. Passei a ter a responsabilidade da gestão de vários laboratórios de informática destinados à utilização pelos estudantes e outros utentes da comunidade académica. Mais tarde, por motivos pessoais, ausentei-me da UMinho. Retomei o serviço no CIUM, ao fim de um ano e meio, e prossegui na gestão do acesso aos laboratórios de informática e no apoio às necessidades informáticas dos estudantes e utentes. Mais tarde, em 2004, a reestruturação e adaptação do serviço também foi o reflexo do crescimento da academia.

De que forma?
O CIUM desdobrou-se em três serviços tecnológicos especializados: Gabinete de Sistemas de Informação (GSI), Serviço de Apoio Informático à Aprendizagem (SAPIA), onde continuei a gerir a utilização de computadores nos laboratórios de informática, e Serviços de Comunicações (SCOM). Nesse ano, eu e o eng. José Ramada fomos destacados para os SCOM, onde ainda permanecemos e que têm uma nova designação. Com o novo Regulamento Orgânico das Unidades de Serviços, nasceu a Unidade de Serviços dos Sistemas de Informação e Comunicações (USSIC), resultante da fusão da Direção de Tecnologias e Sistemas de Informação com os SCOM.
 
O que a marcou mais ao longo deste tempo?
A evolução da tecnologia, com as suas mudanças rápidas e constantes. Poder acompanhar estas alterações durante três décadas, em contexto académico, foi desafiante e fascinante. Cheguei à UMinho com conhecimentos e ferramentas que, hoje, poucos conseguem imaginar. [sorriso] Pratiquei datilografia numa máquina manual e, quando entrei no CIUM, passei a escrever em máquina automática. Pouquíssimo tempo depois, passámos a utilizar o PC, a explorar o ambiente DOS e a “bater” texto em Open Access, que obedecia a comandos. Mas os computadores evoluíam muito depressa e beneficiavam de uma ótica de utilização progressivamente mais simples. De repente, estávamos a escrever na folha Word de um Macintosh de ecrã minúsculo [risos], ao mesmo tempo que outro conjunto de softwares evoluía. A velocidade era abismal e o mundo tecnológico tornou-se mais global e acessível. É espetacular! Atualmente, o mundo das plataformas também promete desafios no tratamento da informação e cá estarei para poder evoluir.
 
Gosta do que faz?
Gosto do que faço e pretendo sempre aprender o mais possível com o decorrer das minhas tarefas. Tanto nos SCOM, como atualmente no Gabinete de Infraestruturas de Comunicações de Dados da USSIC, a minha função é dar tratamento administrativo a todo o expediente relativo ao suporte e desenvolvimento da infraestrutura e serviços de rede de voz e dados. Estas são ferramentas cada vez mais exigentes face à utilização exaustiva dos equipamentos, que são recursos normais de trabalho, de interação pessoal e também de entretenimento.
 
Considera que a UMinho também mudou ao longo do tempo?
Os princípios são os mesmos: fazer elevar o conhecimento humano para progredir e elevar a humanidade. Mas a evolução natural da criatividade e da inovação, à medida que se avança no tempo e aumentam os fatores de crescimento, vão, cada vez mais, atingindo objetivos maiores e a globalização alarga-os de forma grandiosa. Assim a UMinho vai chegando cada vez mais longe.
 
Que significado tem para si a medalha que hoje recebe pelo trabalho na UMinho?
Reconhecimento mútuo de colaboração, dedicação e orgulho. É o efeito boomerang!
 
 

  O dia não acaba sem... chocolate!

  Na gaveta da minha secretária guardo manuais, pilhas, pens, desenhos de crianças que me visitam no trabalho e
  chocolate!
  Mal entro no carro, ligo o rádio para ouvir música e notícias, mas em casa prefiro… fazer videochamada do nosso
  grupo Família, ver notícias na TV e programas de culinária.
  Considero-me uma pessoa responsável, leal, brincalhona e penso que os outros me acham simpática.
  Num jantar, em família, não dispenso as conversas que recordam situações que vivemos em comum. Fazem-nos rir
  imenso. Outras vezes partilhamos os sonhos que cada um pretende realizar. E, no fim da sobremesa, uma sessão de
  jogos de tabuleiro!
  Ao fim de semana, ligo a televisão para ver filmes com os meus filhos, programas de desporto e entretenimento.
  Nada me fará esquecer o momento em que nasceram os meus filhos e a minha netinha!
  Gostava muito que amanhã a pandemia se resolvesse a desaparecer em todo o mundo.
  A pessoa que mais me marcou é o meu pai. Homem íntegro, self-made man, incrível aos meus olhos, aos dos seus
  netos e não só; tanto no conhecimento como na relação interpessoal. Uma pessoa socialmente muito ativa e em
  busca constante de alegrias e conhecimento.
  À sombra de uma árvore, leria poesia de Pablo Neruda ou “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez.
  Sonho diariamente com um mundo com mais valores humanitários e preocupados em tornarem a vida uns dos
  outros mais leve, a prática real da solidariedade.
  O meu dia não acaba sem um chocolate!
  A UMinho é a melhor projeção da evolução do ensino superior. Para além de uma instituição de valor incalculável,
  por partirem dela pessoas formadas, com ferramentas incríveis que as levarão à realização de maior conhecimento
  para a humanidade, é a casa onde me sinto segura a desenvolver o meu trabalho e que me possibilitou aumentar o
  autoconhecimento, a experiência laboral e a riqueza do meu saber.