Um interesse que vem de longe e que teve de ser adaptado
Cynthia Luderer começou a interessar-se pelo tema tendo as revistas de gastronomia brasileiras como objeto do seu doutoramento. Na altura, conferiu o papel dos chefs como celebridades no espetáculo mediático da gastronomia, que eclodiu este século. Com a sua chegada a Portugal, percebeu que o fenómeno não era tão explorado e procurou novos caminhos para continuar os estudos. Foi aí que se debruçou nas revistas dos supermercados portugueses sob o ponto de vista da sustentabilidade evidenciada. Após a recolha e leitura detalhada do material em estudo, procedeu à análise dos discursos em consonância com a semiótica da cultura, tendo também em conta a antropologia da alimentação.
“A alimentação, quando está de mãos dadas com a comunicação, eleva imensamente o potencial de novas discussões para explorar e desvendar. Este percurso com as revistas e os supermercados tem instigado a exploração de outros temas e contribuído para aproximar colegas para criar parcerias. Com isso, tenho estudado o consumo da carne e o universo dos vegetarianos, tentado entender mais amiúde os discursos em torno da dieta mediterrânica, assim como da tradição, e ainda avançando sobre o repertório das vilas ecológicas e pequenos produtores, por exemplo", frisa. A memória - dentro de um prisma mais amplo - é um foco importante para entender esses textos culturais, tendo até sido apresentada como um sintoma desses e de outros movimentos atuais que passam pela alimentação”, realça.
Para Cynthia Luderer, “investigar neste campo é um desafio, pois há muita dificuldade para se conseguir chegar aos dados ou aos agentes vinculados direta ou indiretamente aos grupos dos supermercados”. Está consciente que, além de inibir os estudos, essas barreiras "inibem as possibilidades" para ampliar parcerias ou criar vínculos entre a academia e o mercado. "Como já analisei no mestrado, os limites contribuem para o processo criativo e essas fronteiras estimulam-me a procurar as fontes nas margens; e foi aí que surgiram os pequenos produtores e associações, que indicam manter uma relação de animosidade com as grandes superfícies - desse ângulo, comecei a perceber outro universo, aparentemente muito mais coerente com os princípios da Agenda 2030 das Nações Unidas”, conclui.
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