“Não gosto de não saber e gosto que as pessoas saibam”

31-01-2021 | Paula Mesquita | Fotos: Nuno Gonçalves

Considera que a BLCS tem um impacto cada vez maior na sociedade a nível local, mas também nacional e internacional

Thiago Cunha tem 39 anos e nasceu numa pequena cidade do interior de São Paulo, no Brasil

Quando chegou a Portugal, ingressou no curso de Técnico de Biblioteca e Documentação, que lhe permitiu estagiar na BLCS

Inicialmente, esteve afeto ao serviço de atendimento; contudo, foi alargando as funções a outras áreas e projetos da biblioteca

Thiago Cunha entre colegas envolvidos na transferência de 55.000 livros da BLCS, na Biblioteca Púbica de Braga, em 2020

“Espero sempre que as pessoas estejam satisfeitas na BLCS e se sintam em casa”, confessa

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Thiago Cunha

Tem 39 anos e nasceu em Tupi Paulista, no interior de São Paulo, Brasil. Veio para Portugal em 2004. Um ano depois, fez o curso de técnico de Biblioteca e Documentação e o estágio na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, onde continua, como assistente técnico e “sempre a apoiar as pessoas”.


O contacto com livros e documentação começou logo que chegou a Portugal?
Vim para Braga quando me casei. Infelizmente, perdi a minha esposa 6 anos mais tarde. Foi muito duro, mas hoje tenho a certeza que trocar o Brasil por Portugal foi a decisão mais acertada. Quando cá cheguei, a minha esposa trabalhava na Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, o que me permitiu contactar com o tratamento técnico da documentação, de livros, de publicações em série, entre outros. O acervo documental era extenso e muito rico. Foi nessa altura que surgiu o “bichinho” pela área. Em 2005, a Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação abriu o curso profissional de técnico de Biblioteca e Documentação, no qual consegui ingressar. Com muita dedicação, assimilei várias matérias sobre a área da Biblioteconomia e tive a sorte de aprender com excelentes profissionais da informação. Aprendi com os melhores, isso é certo! [sorriso]
 
Praticamente ao mesmo tempo, começou a trabalhar no Gabinete de Relações Internacionais [GRI, hoje 
Serviços de Apoio à Internacionalização]
. Como se proporcionou a sua vinda para a UMinho?
Na altura em que estava a tirar o curso BAD, a minha sogra, dona Ângela, que trabalhava na área da Contabilidade na UMinho, falou-me desta oportunidade. No Brasil, trabalhei na área administrativa da Polícia Militar; tinha, por isso, conhecimentos administrativos e informáticos ajustados ao perfil que o serviço procurava. Depois de uma entrevista com a dra. Adriana Lago, então responsável pelo serviço, fiquei ali a trabalhar quatro meses. Foi uma experiência enriquecedora, durante a qual acabei por me inteirar da dinâmica e forma de funcionamento da nossa universidade.
 
Depois da colaboração com o GRI, prosseguiu o seu percurso pela UMinho.
Logo no estágio do curso BAD, fui convidado a fazer estágio na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS), pelo diretor - e um dos meus professores -, dr. Elísio Araújo. Penso que foi a partir daí que comecei a tornar-me o profissional que hoje sou. Agarrei a oportunidade “com unhas e dentes”! [sorriso]. Não fiquei apenas com o tratamento técnico; demonstrei interesse em aprender tudo o que se passava: atividades, exposições, informática…Tentei estar em todos os lados possíveis, para absorver toda a informação, mesmo sem imaginar que um dia viria a trabalhar cá.
 
O que começou por fazer na BLCS?
Quando ingressei, estive mais afeto ao serviço de atendimento, nomeadamente nas salas de leitura e na receção, mas também ao depósito de publicações e o tratamento técnico. Tive sempre vontade de aprender de tudo um pouco. Procurei a polivalência, que hoje é tão bem-vinda nos serviços. [sorriso]
 

Gosto pela leitura surgiu das bandas desenhadas

Como foi a sua evolução profissional?
Comecei a colaborar na montagem das exposições, na logística das atividades culturais, fiquei responsável pelo projeto LAC, que apoia as bibliotecas escolares de Braga, presto apoio na parte informática, fui responsável por sessões de (in)formações na área das TIC para maiores de 55 anos e desenvolvi algumas atividades exteriores nesta área, para crianças. Sinto que estou sempre a evoluir. Não gosto de não saber e gosto que as pessoas saibam! [sorriso] Se algum colega ou utente precisar de ajuda, sabe sempre com quem contar!
 
O que é que gosta mais de fazer?
Gosto de ajudar as pessoas. E não é discurso de “bom samaritano”. Estou sempre disponível e quem me conhece sabe disso. A BLCS é um local mais do que propício para uma confluência de emoções, de experiências e de saberes. Recebemos diariamente pessoas com as mais variadas dificuldades a recorrerem aos nossos serviços. É dignificante quando saem com um sorriso no rosto, é sinal que a nossa missão está no bom caminho. Mas também gosto de estar sozinho com os meus “botões”. Serve para colocar as ideias em ordem! [sorriso] Uma bela caminhada à beira-rio é do melhor que há!
 
O que espera que as pessoas sintam quando entram na BLCS?
Espero sempre que as pessoas estejam satisfeitas e se sintam em casa. É revigorante quando um utente entra na biblioteca e sai com o que pretende. Queremos servir a comunidade da melhor forma possível. Penso que temos feito um excelente trabalho e o impacto na sociedade é cada vez maior, a nível municipal, distrital, nacional e internacional. A BLCS tornou-se uma referência e, para mim, é um orgulho fazer parte da equipa.
 
Gosta de ler?
Sim, aprecio uma boa leitura. Já li mais, confesso. Por vezes, falta tempo. [sorriso] Gosto de descobrir autores, gosto de livros que nos deixam a pensar e gosto de livros que nos ensinam, tanto a nível pessoal como profissional. Mas nunca esqueço que o gosto pela leitura surgiu das bandas desenhadas! [sorriso]
 
Como é que devem as pessoas percecionar uma biblioteca?
É importante que a sociedade em geral perceba que as bibliotecas estão num novo paradigma, conseguem fazer cada vez mais a diferença na evolução do saber do indivíduo e na sua formação ao longo da vida. As bibliotecas têm e fornecem o acesso aos mais variados tipos de informação. É fácil chegar às estantes e é fácil o acesso ao digital. Mas o conhecimento não se fica por aí. Hoje em dia, todas as bibliotecas oferecem um programa de atividades educativas, formativas e culturais, nas mais diversas temáticas e para todas as faixas etárias. São um equipamento cultural de referência e todas trabalham para que os cidadãos se sintam incluídos na sociedade.
 


  Olhar a vida pelo lado positivo
 
  Um livro. "O alquimista", de Paulo Coelho.
  Um filme. "À espera de um milagre", de Frank Derabont.
  Uma música. "Viva la vida", dos Coldplay.
  Uma figura. O Papa Francisco.
  Um passatempo. Fazer caminhadas.
  Um prato. Tapas.
  Uma viagem. Palma de Maiorca, no Mediterrâneo.
  Um momento. O dia 7 de agosto de 2004, quando cheguei a Portugal.
  Um vício. Cerveja! [risos]
  Um defeito. Não saber dizer “não”.
  Um sonho. Nunca mudar a minha maneira de ser.
  Um lema. Sê feliz!