Dez livros de banda desenhada a não perder

21-12-2024

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A autora e investigadora Nicoletta Mandolini propõe-nos narrativas recentes da chamada "nona arte".




A cada dezembro temos convidado professores e investigadores da UMinho para partilharem 10 escolhas culturais suas. Após os livros por Maria do Carmo Mendes Ribeiro, as músicas por Ângelo Martingo, os filmes por Martin Dale, as séries televisivas por Xaquín Núnez-Sabarís, as peças teatrais por Francesca Rayner, as obras alternativas por Carla Cruz e os trabalhos de media art por Luís Fernandes, é a vez de Nicolleta Mandolini nos trazer duas mãos cheias de obras de banda desenhada (BD), ligadas a autoras e pessoas não binárias, que foram (re)publicadas ou traduzidas em 2024.

Nicoletta Mandolini é investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da UMinho, onde trabalha no projeto Sketch Her Story and Make It Popular. Using Graphic Narratives in Italian and Lusophone Feminist Activism e coordena também o estudo GENTEEL – Graphic Novels Against Gender Violence, cofinanciado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. É doutorada pelo University College Cork (Irlanda), pós-doutorada pela Universidade Católica de Lovaina (Bélgica) e autora do livro Representations of Lethal Gender-Based Violence in Italy between Journalism and Literature. Femminicidio Narratives (Routlege, 2021).


01 | Sete senhoras, de Margarida Madeira
Primeira obra em banda desenhada da autora e vencedora do Premio Revelação do Festival de BD de Amadora em 2023, Sete senhoras conta a história da menina Margarida e de como a sua formação foi influenciada pelos encontros, sempre filtrados pela rica fantasia da protagonista, com alguns excêntricos “modelos” de feminilidade. Em 2024, a segunda edição de Sete senhoras foi lançada pela Ala dos Livros.

02 | A educação fisica, de Joana Mosi
Publicado pela editora Iguana em 2024, A educação física é um livro sobre um livro. A sua dimensão metanarrativa evidencia que a “não-história” sobre a disciplina diária imposta pela vida à protagonista Laura, às suas amigas e à sua mãe é um espelho deformado dos desafios existenciais e artísticos da autora, como frequentemente ocorre nas novelas gráficas.

03 | Gato comum, de Joana Estrela
O novo livro de umas das mais conhecidas autoras da nova geração da BD portuguesa, Gato comum, publicado este ano pela editora Planeta Tangerina, fala em relações familiares interespécies. A obra narra a história de uma menina, dos seus pais e da preparação para o luto diante da morte anunciada do seu gato.

04 | Hoje não, de Ana Margarida Matos
Esta nova edição promovida pela editora Chili Com Carne convida à redescoberta do trabalho de cariz experimental de Ana Margarida Matos. Com Hoje não, a autora oferece uma reflexão gráfica sobre identidade, autorrepresentação e sociedade nos tempos de confinamento.

05 | Filosofia do mamilo, de Kael Vitorelo
Para abordar as violências que o sistema estatal impõe às pessoas que não se encaixam na dicotomia de género, o artista brasileiro Kael Vitorelo escolheu um híbrido entre graphic memoir e ensaio gráfico. É assim que Filosofia do mamilo (Editora Veneta, 2024) conta a história de não conformidade do seu autor e, ao mesmo tempo, reflete sobre a mastectomia e outras modificações corporais eletivas como lugar de experimentação e inovação.

06 | Juízo, de Amanda Miranda
A artista visual e autora de BD brasileira Amanda Miranda trabalhou em 2024 numa nova edição da sua zine Juízo, uma história em quadradinhos que mistura um dos temas mais caros ao feminismo, a interrupção voluntária de gravidez, com a estética do horror e consegue, desta forma, falar sem prejuízos do terror de engravidar num país onde os direitos reprodutivos não são garantidos.

07 | My Favourite Thing is Monsters 2, de Emil Ferris
2024 foi o ano da muito aguardada publicação do segundo volume de Minha coisa favorida é monstro, da autora norte-americana Emil Ferris. Lançado pela Fantagraphics, My Favourite Thing Is Monsters 2 dá continuidade às aventuras de Karen, uma menina que enfrenta a dura realidade da pobreza e da violência na Chicago dos anos 60, imaginando a si mesma e aos outros como seres monstruosos.

08 | Nocturnos, de Laura Pérez
Nocturnos (Astiberri, 2024), de Laura Pérez, é uma obra de arte visualmente poética que explora as conexões entre o onírico e o quotidiano. Através de uma série de histórias curtas, a autora oferece narrativas surreais e introspetivas, combinando ilustrações etéreas com temas como a solidão, o mistério e a transcendência.

09 | Mothballs/Naftalina, de Sole Otero
Este ano, foi também traduzida para o inglês pela editora norte-americana Fantagraphics uma das mais aclamadas novelas gráficas feministas dos últimos anos: Naftalina, da autora argentina Sole Otero. A obra narra a história de Rocío, que tenta reconstruir a vida da sua recém-falecida avó Vilma e, com ela, uma parte da história marcada por desaparecimentos e violência no contexto político do seu país.

10 | Women, Life, Freedom, de Marjane Satrapi (Eds.)
Women, Life, Freedom (Seven Stories Press UK), de Marjane Satrapi e lançado em 2024, homenageia a luta feminista no Irão após a morte de Mahsa Amini em 2022. A obra reúne contribuições de 20 artistas, ativistas e académicas, captando o espírito de resistência e esperança que marcou os protestos.